domingo, 30 de janeiro de 2011



Artigo 37
Centenário da Implantação da República
(1910-2010)
Numária
O Papel-moeda

CEM ESCUDOS

Camilo Castelo Branco



Chapa 7

Ilustra esta nota o retrato do romancista português Camilo Castelo Branco. As maquetas iniciais desta nota são de autoria do arquitecto João de Sousa Araújo. A gravação e estampagem das notas foram efectuadas pela firma inglesa Thomas De La Rue & Cº. Ltd., de Londres. As duas estampagens calcográficas da frente, a cores a azul e castanho, apresentam o retrato de Camilo Castelo Branco, o escudo nacional, dísticos e ornatos de torno geométrico. O fundo tem três impressões a“offset”, em íris, trabalho em duplex e aplicação de desenho numismático que ocupa toda a área da margem . Tem uma estampagem em talhe-doce a azul com a vista da cidade do Porto dos meados do século XIX e ornamentos de guilhoché que sobressaem dum fundo de duas impressões. O papel foi fabricado por Portals Limited, Laverstoke Mills, Whitchurch, Hants, apresenta uma filigrana especial no lado esquerdo e quando visto à transparência do lado direito, a efígie de Camilo. Incorporado no papel pode observar-se, na metade direita, um filete de segurança de traço descontínuo. Dimensões da nota 149 x 74 mm. Foram emitidas 209 924 000 notas, com as datas de 30 de Novembro de 1965 e 20 de Setembro de 1978. Primeira emissão, 29 de Abril de 1968 e a última emissão, 18 de Fevereiro de 1981. Foram retiradas de circulação em 31-03-1987.
Biografia:
Camilo Ferreira Botelho Castelo Branco, mais conhecido por Camilo Castelo Branco, além de romancista de excepção, foi também cronista, crítico, historiador, tradutor, dramaturgo e poeta. Nasceu na cidade de Lisboa a 16 de Março de 1825, oriundo de uma família aristocrática provinciana. Era filho de Manuel Joaquim de Botelho Castelo Branco e de Jacinta Rosa do Espírito Santo Ferreira, com quem nunca casou registando-o como filho de mãe incógnita. Ficou órfão de mãe com a tenra idade de um ano e de pai aos dez anos, o que de certo modo lhe moldou um carácter de constante insatisfação; foi acolhido por uma tia que vivia em Vila Real e mais tarde foi viver com a irmã mais velha para Vilarinho de Samardã no ano de 1839, recebendo uma educação um tanto irregular através de dois padres provincianos. Na sua adolescência teve como formação a leitura de clássicos portugueses e latinos, literatura eclesiástica.
Camilo casou no ano de 1841 com Joaquina Pereira de França com apenas 16 anos de idade, indo viver para Friúme (Ribeira de Penha) não passando de uma paixão juvenil, pois o casamento depressa se desfez. No ano de 1842 preparou-se para ingressar na Universidade, tendo como professor e orientador o padre Manuel da Lixa. Camilo é portador de uma personalidade extremamente instável e turbulenta, leva-o a experiências amorosas buliçosas uma das quais com Patrícia Emília, a freira Isabel Cândida. Publicou em 1848, No Nacional, correspondências em que proferia ataques a personalidades de então, o que lhe valeu por parte dos visados ser espancado por diversas vezes como correcção aos irreverentes artigos jornalísticos. Neste mesmo ano abandonou Patrícia e refugiou-se em casa da irmã em Covas do Douro. Tentou cursar medicina no Porto, não concluindo o curso, voltou-se para o curso de Direito onde obteve o mesmo resultado. É por esta altura que na cidade do Porto leva uma vida de boémio, frequentando cafés, salões burgueses, tudo repleto de paixões refulgentes, dedicando-se ao jornalismo. Conheceu e de imediato se apaixonou por Ana Plácido no ano de 1850; esta entretanto casou no ano de 1852 com um negociante brasileiro de nome Pinheiro Alves; esta personagem inspira-o em várias novelas, a maior da parte delas com carácter depreciativo. Estes contactos de Camilo e a visita a casa de Ana Plácido, seduzem-no de tal maneira que a rapta, andando a monte, sendo pouco depois capturados e julgados. Foi considerado um escândalo pela sociedade de então, o qual não deixou de emocionar a opinião pública, pelo conteúdo romântico de amor contrariado. Presos em celas diferentes na cadeia da Relação do Porto, escreveu “Memórias do Cárcere”; aqui conheceu o famoso Zé do Telhado, que roubava as casas abastadas na zona do Douro para dar aos pobres; por relevantes serviços prestados, aquando das guerras liberais, foi condecorado com a Torre Espada. No ano de 1863, indo de recurso em recurso e após a absolvição do crime de adultério, Ana Plácido e Camilo passam a viver juntos. É a partir deste ano que Camilo se debruça essencialmente na escrita, escrevendo ininterruptamente, mais de 260 obras, a um ritmo alucinante superior a 6 obras por ano. O ex-marido de Ana Plácido morreu no ano de 1863; o casal foi viver para São Miguel de Seide, com os filhos. Por motivos de saúde, no ano de 1871, Camilo transferiu-se para Vila do Conde, onde escreveu a peça de teatro “A Filha do Arcediago”. Desloca-se com imensa frequência entre os anos de 1873 a 1890 à Povoa do Varzim; é aqui que escreve a grande parte da sua obra, recolhido no hotel Luso-Brasileiro. Na Póvoa contacta com personalidades intelectuais e sociais, como o pai de Eça, que era Par do Reino, Almeida Garrett, António Feliciano de Castilho, Alexandre Herculano, Francisco Gomes de Amorim, poeta e dramaturgo do burgo, entre outros, por conseguinte com a nata mais sonante das letras de então. No ano de 1877, sofreu um enorme desgosto com o falecimento do seu filho Manuel Plácido, com apenas 19 anos de idade. No ano de 1885 é-lhe concedido o titulo de Visconde de Correia Botelho. Casou-se com Ana Plácido, seu grande amor em Março de 1888. Os seus últimos anos de vida são passados na companhia de Ana, não encontrando estabilidade emocional, por dificuldades de ordem financeira e de preocupações vivida com os filhos, um por irresponsabilidade, e o outro por uma doença mental. A sua doença, (sífilis) ia-o debilitando gradualmente, cegando-o, e impedindo-o de ler e trabalhar, o que o fez mergulhar num enorme desespero, perdendo a vontade de viver. Após uma consulta e conhecedor do seu estado de saúde extremamente debilitada pela cegueira que avançava vertiginosamente, e num momento de desespero suicidou-se no dia 1 de Junho de 1890. Foi o primeiro escritor a viver exclusivamente dos seus escritos, sujeitando-se às críticas, impondo um cunho muito pessoal nos seus romances, o que veio conotá-lo como, um dos mais românticos escritores portugueses de sempre. Durante os mais de 40 anos em que se dedicou à escrita, deixou um legado enorme de textos inéditos; comédias, folhetins, ensaios, tradução de cartas e poesias, subscrevendo-os ou com a sua assinatura ou com os pseudónimos: Manoel Coco; Saragoçano; A.E.I.O.U.Y; Anastácio das Lombrigas e Arqui-Zero. Por a sua obra ser extremamente extensa abaixo refiro-me às principais: Anátema (1851); Mistérios de Lisboa (1854); A Filha do Arcediago (1854); Livro negro do Padre Dinis (1855); A Neta do Arcediago (1856); Cenas da Foz (1857); Carlota Ângela (1858); Vingança (1858); O Morgado de Fafe em Lisboa (Teatro 1861); Doze Casamentos Felizes (1861); As Três Irmãs (1862); Amor de Perdição (1862); Coração, Cabeça e Estômago (1862); Anos de Prosa (1863); O Bem e o Mal (1863); Agulhas em Palheiro (1863); Amor de Salvação (1864); A Sereia (1865); O Judeu (1866); A Queda dum Anjo (1866); A doida do Candal (1867); Os Mistérios de Fafe (1868); Os Brilhantes do Brasileiro (1869); Mulher Fatal (1870); A Infanta Capelista (1872); O regicida (1874); Novelas do Minho (1875-1877); Eusébio Macário (1879); A Corja (1880); A Senhora Rattazzi (1880); A Brasileira de Prazinz (1882); O Assassino de Macário (1882); Folhas Caídas; A Gratidão; Luís de Camões; O Vinho do Porto; O Suicida, etc…

F I M

Bibliografia: “O papel-moeda em Portugal. Banco de Portugal. Wikipedia. Trechos avulsos. História de Portugal de Pinheiro Chagas.
Óbidos, Março de 2010.
Publicado no Jornal das Caldas em 2011-01-26

Sem comentários: