quinta-feira, 29 de maio de 2014

Numismática
Moedas Portuguesas Comemorativas do Euro

31º. Moeda
Realizações Europeias
“Passarola” Bartolomeu de Gusmão - 1709
8 Euro
   
Características da moeda

  


Anv: Apresenta no centro do campo a legenda “República Portuguesa”, o escudo nacional assente na esfera armilar por cima, e o valor facial da moeda 8 € por baixo. No campo lateral esquerdo encontra-se a era “2007” e o logotipo da colecção. No campo lateral direito a legenda “Euro”.
Rev: Apresenta na parte superior junto à orla da moeda as legendas “Realizações Europeias”, e a “Passarola de Bartolomeu de Gusmão 1709”. Na parte inferior e ao centro apresenta-se a figura da Passarola desenhada com base em estudos efectuados pelo Padre Himalaia.
Autor: Espiga Pinto.
Moedas de Prata com acabamento normal:
Valor facial 8 Euro; Ag: 500/100 de toque; Dia 36 mm; Peso 27 g.; Bordo serrilhado. Cunhagem 129.375 exemplares.
Moedas de Prata proof:
Valor facial 8 Euro; Ag: 925/100 de toque; Dia 36 mm; Peso 31,10 g.; Bordo serrilhado. Cunhagem de 25.000 exemplares.

Bartolomeu Lourenço de Gusmão nasceu no ano de 1685 na capitania de São Vicente, Santos, no Brasil, e faleceu na cidade de Toledo em 18 de Novembro de 1724. Era filho de Francisco Lourenço Rodrigues e de Maria Álvares. Mais tarde, em 1718, adoptou o apelido de Gusmão em homenagem ao preceptor o  jesuíta Alexandre Gusmão. Cursou as primeiras letras provavelmente na própria Capitania de São Vicente, no Colégio de São Miguel, então o único estabelecimento educacional da região. Prosseguiu os estudos na Capitania da Baía de Todos os Santos. Aí ingressou no Seminário de Belém, em Cachoeira, onde teria início a sua profícua carreira de inventor. O seminário situava-se sobre um monte de cem metros de altura, cujo abastecimento de água era muito precário, a qual tinha que ser captada e transportada em vasos a partir de um brejo subjacente. Percebendo o problema, Bartolomeu inteligentemente planeou e construiu um maquinismo para levar a água do charco até o seminário por meio de um cano longo. O invento, testado com absoluto sucesso, foi considerado admirável e de grande utilidade, inclusive pelo próprio reitor e fundador do seminário, o sacerdote Alexandre de Gusmão. Terminou o curso no Seminário de Belém em 1699, Bartolomeu transferiu-se para Salvador, capital do Brasil à época, e ingressou na Companhia de Jesus, de onde saiu antes de ser ordenado, em 1701. Viajou para Portugal, onde chegou já famoso, ficando hospedado em Lisboa, na casa do 3º Marquês de Fontes, que se impressionara com os dotes intelectuais do jovem. Contava ele então com apenas dezasseis anos. Em 1702, Bartolomeu voltou ao Brasil e deu início ao processo de sua ordenação sacerdotal. Três anos depois requereu à Câmara da Baía a patente para o seu aparelho inventado anos antes - o invento para fazer subir água a toda a distância e altura que se quiser levar. A patente foi expedida em 23 de março de 1707 pelo rei Dom João V. Em 1708, já ordenado padre, Bartolomeu embarcou mais uma vez para Portugal. Logo após a sua chegada, no primeiro dia de Dezembro matriculou-se na Faculdade de Cânones da Universidade de Coimbra. Passados alguns meses, contudo, abandonou a faculdade para se instalar em Lisboa, onde foi recebido com agrado pelo Rei Dom João V e pela Rainha Maria Ana de Áustria, tendo sido apresentado aos soberanos por um dos maiores fidalgos da Corte, D. Rodrigo Anes de Sá Almeida e Menezes. Na capital portuguesa o padre Bartolomeu de Gusmão pediu patente ou "petição de privilégio " para um “instrumento para se deslocar pelo ar” – que se revelaria ser, mais tarde, o que hoje se conhece por aeróstato ou balão, a qual foi concedida no dia 19 de Abril de 1709 . Em Agosto, finalmente, Bartolomeu de Gusmão fez perante a corte portuguesa cinco experiências com balões de pequenas dimensões construídos por ele: na primeira, realizada no dia 3 na Casa do Forte (Palácio Real), o protótipo utilizado pegou fogo antes de subir; na segunda, feita no dia 5 noutra dependência do palácio, a Casa Real, o aeróstato, provido no fundo duma tigela com álcool em combustão, elevou-se a 4 metros, quando começou a arder ainda no ar, sendo imediatamente derrubado por dois serviçais armados de paus, receosos dum incêndio aos cortinados do recinto; na terceira vez, no dia 6 novamente na Casa do Forte, o balão, contendo no interior uma vela acesa, logrou fazer um voo curto, mas queimou-se; na quarta, executada no dia 7 no Terreiro do Paço, o balão elevou-se a grande altura, pousando lentamente minutos depois; na quinta, levada a efeito no dia 8 na Sala das Audiências, no interior do Palácio Real, o globo subiu até o tecto do aposento, aí se demorando, quando enfim desceu com suavidade. Em 3 de Outubro de 1709, na ponte da Casa da Índia, o padre fez nova demonstração do invento. O aparelho utilizado era maior que os anteriores, mas ainda incapaz de carregar um homem. A experiência teve êxito absoluto: o aeróstato subiu alto, flutuou por um tempo não medido e pousou sem estrépito.


O fato causou celeuma na cidade e a notícia rapidamente se espalhou para alguns reinos europeus. O invento, foi divulgado pela Europa em estampas fantasiosas que, em geral, o retratavam como uma barca com formato de pássaro, ficando conhecido como “Passarola”. Entre 1713 e 1716 viajou pela Europa. Em 1713 registou na Holanda o invento de uma “máquina para a drenagem da água alagadora das embarcações de alto mar” (patente que só veio a público em 2004 graças a pesquisas realizadas pelo arquivista e escritor brasileiro Rodrigo Moura Visoni). Viveu em Paris, trabalhando como ervanário para se sustentar, até que encontrou seu irmão Alexandre, secretário do embaixador de Portugal na França. O padre Bartolomeu de Gusmão voltou a Portugal, mas foi vítima de traiçoeira campanha de difamação. Acusado pela Inquisição de simpatizar com cristãos-novos, foi obrigado a fugir para a Espanha, no final de Setembro de 1724, com um seu irmão mais novo, Frei João Álvares, pretendendo chegar a Inglaterra. Segundo o testemunho que, mais tarde, João Álvares daria à Inquisição espanhola, Bartolomeu de Gusmão ter-se-ia convertido ao judaísmo, em 1722, depois de atravessar uma crise religiosa. O relato de João Álvares ao Santo Ofício, ainda que deva ser considerado com cautela, mostra, segundo Joaquim Fernandes, aspectos místicos, messiânicos e megalômanos de Bartolomeu de Gusmão. Em Toledo, Bartolomeu adoeceu gravemente, sendo recolhido no Hospital da Misericórdia daquela cidade, onde veio a falecer em 18 de Novembro de 1724, aos 38 anos. Antes de morrer, porém, confessou-se e recebeu a comunhão, conforme o ritual católico, e assim foi sepultado na Igreja de São Romão, em Toledo. Foram feitas, ao longo de décadas, várias tentativas para localizar a sua campa, o que ocorreu no ano de 1856. Parte dos restos mortais foram transladados para o Brasil no ano de 2004, encontrando-se depositados na Catedral Metropolitana de São Paulo. Cinco testemunhas registraram essas experiências: o cardeal italiano Miquelângelo Conti, eleito papa em 1721 sob o nome de Inocêncio XIII, os escritores Francisco Leitão Ferreira e José Soares da Silva, nomeados membros da Academia Real de História Portuguesa em 1720, o diplomata José da Cunha Brochado e o cronista Salvador António Ferreira, portugueses.

F I M
Publicado no Jornal das Caldas de 28-05-2014