quarta-feira, 25 de maio de 2011


Artigo 54
Centenário da Implantação da República (1910-2010)
Numária
O Papel-moeda
1910 – 2010
Luís de Camões





Chapa 1

O retrato do considerado príncipe dos príncipes poetas portugueses, Luís de Camões e as figuras simbólicas da Agricultura e do Comércio são os motivos relevantes desta nota. O trabalho de gravação das chapas, e a estampagem das notas foi confiado à firma inglesa Bradbury, Wilkinson & Co. Ltd., de Londres. A frente da nota tem uma estampagem calcográfica a talhe - doce, a azul - escuro, que engloba o retrato de Camões, embarcações de comércio e ornamentos com fino trabalho em guilhoché em linha branca. O verso tem uma estampagem calcográfica, a castanho – escuro, sobre fundo irisado impresso tipograficamente a violeta, verde, azul, rosa e amarelo, onde se apresenta de cada lado da nota as figuras simbólicas da Agricultura e do Comércio. O papel foi fabricado por T. H. Sauders & Co. Ltd. of Purfleet Wharf, de Londres e tem como marca de água, visto à transparência pela frente, a meio da nota, uma cabeça alegórica de mulher. Dimensões da nota 191 x 112 mm. Foram emitidas 435 000 notas com a data de 28 de Julho de 1920. A primeira emissão, 2 de Novembro de 1921 e a última emissão, 8 de Dezembro de 1925. Foram retiradas de circulação em 14 de Outubro de 1927.
Biografia:
Luís Vaz de Camões, ou Luís de Camões nasceu cerca do ano de 1524 na cidade de Lisboa oriundo de uma família da pequena nobreza. A casa ancestral de Camões tinha as suas origens na Galiza, seria descendente por via paterna de Vasco Pires de Camões, trovador galego, guerreiro e fidalgo que se mudou para Portugal no ano de 1370, recebendo do rei grandes honrarias. Luís de Camões era filho de Simão Vaz de Camões e de sua mulher Dona Ana de Sá Macedo. Com apenas três anos de idade a família teve que se deslocar para Coimbra devido à peste que assolou a cidade de Lisboa. Da sua infância nada se sabe. Da sua juventude pouco se sabe, mas terá recebido uma educação nos moldes clássicos, dominando o latim, estudando a literatura, e a história antiga e moderna. Por volta do ano de 1536 recebeu a protecção e a educação de um seu tio que o encaminhou para Coimbra. Dizem uns que era um aluno rebelde e indisciplinado, mas interessado pelo conhecimento das coisas, debruçando-se pela história e literatura. Por volta do ano de 1544 com vinte anos de idade abandonou os estudos e regressou a Lisboa. Conta que em Lisboa levou uma vida de boémia, frequentando tabernas e envolvendo-se em conflitos e em jogos amorosos. Nalgumas biografias tardias do poeta, surgem referências aos seus amores, entre elas por exemplo, falava-se de uma paixão pela infanta Dona Maria, irmã do rei, o que lhe valeu a prisão, e uma outra por Catarina de Ataíde, que sendo outro amor frustrado, e refugiou-se no Ribatejo, alistando-se posteriormente como soldado para Ceuta, onde permaneceu cerca de dois anos, perdendo aí a vista direita numa batalha naval no estreito de Gibraltar. Regressado a Lisboa voltou à vida anterior. Um documento datado de 1550 dá-o como alistado para viajar à Índia, como se segue:”Luís de Camões, filho de Simão Vaz de Camões e Ana de Sá, moradores em Lisboa, na Mouraria; escudeiro de 25 anos, barbirruivo, trouxe por fiador a seu pai; vai na nau de S. Pedro dos Burgaleses… entre homens de armas”. Viria a embarcar no ano de 1553, porque numa procissão de Corpus Christi altercou com Gonçalo Borges, empregado do Paço, e feriu-o com a espada, sendo por isso condenado à prisão, e libertado somente em Março de 1553. Embarcou na nau São Bento em fins de Março de 1553, aportando em Goa no ano de 1554, enfrentando tempestades no Cabo da Boa Esperança, onde se perderam três naus. No ano de 1555 alistou-se e combateu na expedição contra o rei de Chembé. Neste mesmo ano, Camões acompanhou a esquadra de Manuel Vasconcelos para combater os mouros no mar Vermelho, não encontrando o inimigo, a armada aportou a Ormuz; aqui pensa-se que iniciou a escrita de “Os Lusíadas”. No ano de 1556 regressou a Goa onde escreveu o “Auto de Filodemo”. Foi preso devido a dívidas contraídas entre os anos 1556 e 1561. Mais tarde foi libertado pelo governador de então Dom Francisco Coutinho que o empregou e protegeu, nomeando-o Provedor-mor dos Defuntos e Ausentes de Macau, entre 1562 e os anos de 1564 ou 1565. Neste espaço de tempo deu continuidade à escrita de “Os Lusíadas”, que cada vez mais ganhava forma no seu todo. De regresso a Goa, sofreu um naufrágio junto à foz do rio Mekong, salvando apenas o manuscrito de “Os Lusíadas”; este desastre inspirou-o às célebres redondilhas “Sobre os rios que vão”, considerado mais tarde por António Sérgio como o expoente máximo da lírica camoniana. O trama do naufrágio teve influência numa redefinição de “Os Lusíadas”, a partir do Canto VII, conforme alocução do seu amigo Diogo do Couto. Viveu no Oriente todo o género de peripécias, modestamente compartilhando a sua casa com outros, escrevendo poesia e dedicando-se a actividades militares, onde sempre mostrou bravura, prontidão e lealdade à Coroa. No ano de 1567, Camões embarcou para Portugal na nau de Pedro Barreto com destino a Sofala na ilha de Moçambique, onde este havia sido designado governador, e aí Camões esperaria por um transporte que o trouxesse de regresso a Portugal; mas segundo os biógrafos, dizem que Pedro Barreto era traiçoeiro, fazendo promessas vãs a Camões, de tal modo que passados que foram dois anos Diogo do Couto o encontrou em estado miserável, conforme registo que deixou: “Em Moçambique achamos aquele Príncipe dos Poetas de seu tempo, meu matalote e amigo Luís de Camões, tão pobre que comia de amigos, e não faltou quem lhe desse de comer. E aquele inverno que esteve em Moçambique, acabando de aperfeiçoar os seus Lusíadas para os imprimir, foi escrevendo muito em livro, que intitulava Parnaso de Luís de Camões, livro de muita erudição, doutrina e filosofia, o qual lhe juntaram (roubaram). E nunca pude saber, no reino dele, por muito que inquiri. E foi furto notável”. Ainda antes de embarcar para Portugal foi embargado em duzentos cruzados pelo governador Pedro Barreto, por conta de gastos que tivera com o poeta, sendo auxiliado pelos seus amigos que reuniram a quantia para Camões ser libertado. Chegou a Portugal, desembarcando na cidadela de Cascais a bordo da nau Santa Clara em Abril de 1570. Ao fim de tantas peripécias concluiu “Os Lusíadas”, tendo-os apresentado ao rei Dom Sebastião que determinou que fossem publicados em 1572, concedendo-lhe uma pequena tensa em paga pelos serviços prestados na Índia, no valor de quinze mil reis anuais, mas só durante três anos, e mesmo assim, o pagamento era feito de forma irregular, fazendo com que o poeta passasse por imensas dificuldades materiais. Segundo consta os últimos anos de sua vida foram passados num quarto sobre a maior pobreza, “sem um trapo para se cobrir”, o que de certo modo é um exagero, pois tinha ainda ao seu serviço o escravo Jau que trouxera do Oriente, e alguma documentação oficial atestava que ainda possuía alguns meios. A sua obra “Os Lusíadas” é considerada a epopeia portuguesa por excelência, narrando a história de Vasco da Gama, dos heróis portugueses que navegaram além do Cabo da Boa Esperança, abrindo uma nova rota para a Índia. Adoeceu em Junho de 1580 depois de contrair a peste, falecendo nesse mês, sendo o seu corpo sepultado numa campa rasa na Igreja de Santa Ana, ou no cemitério dos pobres. O dia 10 de Junho é o escolhido para comemorar o “Dia de Portugal de Camões e as das Comunidades”.
F I M
Bibliografia: “O papel-moeda em Portugal” Banco de Portugal. Wikipedia. org. Luís de Camões. História de Portugal Pinheiro Chagas. Trechos avulsos.
Óbidos – Outubro de 2010.

Publicado no jornal das Caldas em 25-05-2011

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