segunda-feira, 23 de maio de 2011




Artigo 53
Centenário da Implantação da República
(1910-2010)
Numária
O Papel-moeda




MIL ESCUDOS


Duque da Terceira







Chapa A

À primeira nota com o valor de mil escudos foi agraciada a figura do Duque da Terceira, general e homem de Estado português do tempo do liberalismo, com diversos títulos nobiliários, destacando-se tanto no campo político como no campo militar.
A frente da nota apresenta com tons a azul - escuro os motivos principais (efígie, cercadura, escudo, vinhetas e legendas) assente sobre um fundo por zincogravura, em íris diagonal, lilás ao centro, esbatendo em verde e vermelho para os lados. O verso da nota apresenta um fundo de pontos impressos em íris, amarelo claro ao centro, esbatendo em vermelho e amarelo escuro para os lados, um emoldurado em estilo bizantino, alguns dizeres e diversos ornatos de guilhoché em linha cheia. O papel foi fornecido por Thomas de La Rue & Cº. Ltd., de Londres, apresentando visto de frente à transparência, uma marca de água com a legenda Banco de Portugal. Dimensões da nota 180 x 115 mm. Foram emitidas 118 000 notas com a data de 10 de Julho de 1920. A primeira emissão, 22 de Dezembro de 1920 e a última emissão, 20 de Fevereiro de 1923. Foram retiradas de circulação em 20 de Fevereiro de 1926.
Biografia:
O Duque da Terceira de seu nome António José de Sousa Manuel de Meneses Severim de Noronha, nasceu em Lisboa a 18 de Março de 1792, filho de António de Sousa Manuel de Meneses Severim de Noronha, 6º. Conde de Vila Flor, um dos mais ricos homens de Portugal e de sua mulher Maria José de Mendonça. Com apenas dois anos de idade ficou órfão de pai, sucedendo-lhe no título de conde de Vila Flor, herdando uma enorme fortuna, composta por muitas comendas e bens de raiz e outros rendimentos vinculados. Seria extremamente penoso fazer a discrição dos bens herdados, como comendas, tenças, morgadios que compreendiam enormes quintas onde existiam lugares e aldeias inteiras, mosteiros e títulos honoríficos. Com tamanha riqueza, estava predestinado à vida na Corte, onde fez a aprendizagem da alta nobreza, voltada para a vida política e militar. Com apenas quatro anos de idade, recebeu o grau de Comendador da Ordem de Cristo, tendo no ano de 1804 professado como freire no Convento de Nossa Senhora da Luz. No ano de 1802 assentou praça como cadete do Regimento de Cavalaria 4, tendo sido promovido ao posto de alferes no ano de 1807. Aquando da primeira invasão francesa comandada pelo general Junot que entretanto tinha invadido Portugal, pediu a demissão do Exército, a qual lhe foi concedida alegando a não aceitação da submissão aos franceses. Após a expulsão das forças francesas de Portugal, reingressou no Exército com o mesmo posto, e foi promovido um ano após ao posto de tenente; no ano de 1811 já era capitão da 5ª. Companhia do Regimento de Cavalaria 4, participando activamente nas campanhas da Guerra Peninsular. Casou no ano de 1811 com a sua parente e prima Maria José do Livramento e Melo, filha do marquês de Sabugosa; deste casamento nasceu no ano de 1813 o único filho, o qual faleceu com apenas quinze meses. Durante as guerras Peninsulares destacou-se pelos seus feitos tendo sido promovido ao posto de coronel no ano de 1815 e condecorado com o grau da Ordem da Torre Espada. Em 1817 partiu para o Brasil a fim de integrar a nobreza a que pertencia, e ajudar a debelar a insurreição pernambucana. Foi nomeado governador e capitão – general do Grão – Pará, posto que ocupou até ao ano de 1820. Regressou a Portugal inserido na comitiva do rei D. João VI, no ano de 1821. Entretanto enviuvara e neste mesmo ano de 1821 contraiu matrimónio com Maria Ana Luísa Filomena de Mendonça deapenas treze anos de idade. Entre os anos de 1821 e 1824, viveram-se momentos trágicos em Portugal com assassinatos e golpes entre facções absolutistas e liberais, tendo o duque da Terceira se abstido de tomar parte na “Abrilada”, o que lhe custou a prisão no cárcere de Peniche, por ordem do D. Miguel, o que provocou de imediato a adesão deste ao campo liberal. Fracassada a “Abrilada”, D. Miguel exilou-se em Viena e o duque conjuntamente com outros elementos são libertados. Com a morte de D. João VI em 1826, a situação em Portugal agudizou-se. Subiu ao trono o seu filho D. Pedro IV, que de imediato promulgou a Carta Constitucional e nomeou o duque como Par do Reino. Até ao ano de 1828 continuaram-se a viver tempos terríveis em Portugal com a guerra civil sempre presente, com perseguições, assassinatos, saques, pilhagens, enfim, tudo acontecia de mau sem se vislumbrar o fim deste tenebroso ciclo. Os liberais foram derrotados em quase todas as frentes o que obrigou ao exílio de centenas, incluindo o duque da Terceira. No ano de 1829 e por carta régia, assinada pela rainha D. Maria II, que se encontrava no exílio em Londres, o duque foi nomeado capitão – general dos Açores. No mesmo ano embarcou para a Terceira, conseguindo ludibriar o bloqueio imposto pelos ingleses com um número elevado de emigrados. D. Miguel tentou tomar à força a ilha Terceira em 1829, travando-se dura e longa batalha, a da Praia da Vitória, a qual as forças liberais obtiveram estrondosa vitória. Após esta vitória, a notícia correu célere pelas outras ilhas o que provocou uma enorme adesão à causa liberal. No ano de 1832 D. Pedro desembarcou em Angra do Heroísmo, assumindo a regência em nome de sua filha, tratou de organizar uma expedição para desembarque nas costas portugueses entregando ao duque da Terceira o comando do exército de terra, composto pelos notáveis 7 500 bravos, desembarcando em Abril do mesmo ano no Mindelo. Após o desembarque começou a notar-se movimentações (deserções) das tropas constitucionais para o exército miguelista o que provocou um enorme desânimo. As lutas que se travaram foram bastante duras e com enormes baixas para ambos os lados apesar das forças liberais terem obtido quase sempre a vitória. D. Pedro IV assumiu o comando das forças liberais no ano de 1833 e como gratidão pelos préstimos do conde, elevou-o ao título de duque da Terceira. Neste ano foi promovido ao posto de marechal pelos feitos obtidos pela causa liberal. Entretanto os miguelistas ainda possuíam divisões no norte do país, pelo que o duque da Terceira para aí foi enviado tomando o comando das operações. No ano de 1834 as forças do duque batiam em Amarante os miguelistas, entraram em Vila Real, no dia seguinte chegaram a Murça e Vila Flor, após mais dois dias entraram em Moncorvo, indo de vitória em vitória. Percorreu a Beira Interior entrando em Lamego e já no mês de Maio em Viseu; no dia oito entrou em Coimbra e de seguida marchou sobre Tomar; por fim no dia dezasseis de Maio as forças comandadas pelo duque da Terceira encontraram o exército miguelista do general António Guedes de Oliveira, na batalha da Asseiceira, destroçando-os por completo, naquela que foi a última grande batalha da guerra civil. Com esta vitória, o duque da Terceira com o general Saldanha concertando as operações, marcharam o duque sobre Beja, e o general sobre Évora, envolvendo por completo o exército de D. Miguel, que aí se rendeu, depôs as armas e submeteu-se à rendição assinando a convenção de Évora Monte, terminando assim a fastidiosa guerra civil. No ano de 1836 o duque da Terceira passou a comandar o Exército Português fruto das suas inatas capacidades de chefia e estratégia militar. Entrou para a política em Abril de 1836 quando lhe foi entregue a pasta da Guerra; foi demitido em Setembro do mesmo ano, quando da revolução Setembrista vingou, com a anuência da rainha D. Maria II. O duque da Terceira foi um adversário resistente enquanto lhe foi possível das ideias da revolução de Setembro, pelo que ensaiou um contra-golpe palaciano da “Belenzada”, com a facção cartista, proclamando a restauração da Carta Constitucional de 1826. Em 1837 foi obrigado a exilar-se primeiro em Espanha e depois para França, em virtude da revolta esmagada pelos setembristas depois de assinada a Convenção de Chaves que terminou com uma pequena guerra civil. Foi eleito em 1838 pelo círculo eleitoral de Coimbra para integrar o Senado do Congresso, tendo prestado juramento no ano de 1839. No ano de 1842 regressou ao poder quando apoiou o pronunciamento cabralista que levou à restauração da Carta Constitucional. Neste mesmo ano foi demitido de comandante da 1ª. Divisão Militar pelo governo setembrista. Durante quatro anos o duque presidiu ao ministério denominado “Governo da Restauração”, de que Costa Cabral era o verdadeiro cerne. Neste espaço de tempo acumulou as pastas da Guerra e, interinamente a dos Negócios Estrangeiros, a do Reino e da Justiça. Aquando da revolução no Minho da Maria da Fonte no ano de 1846, o governo foi demitido. Após a assinatura da Convenção do Gramido, o duque não voltou ao governo; mas em 1851, foi chamado para formar um governo que pouco tempo durou. Deixou de vez o comando da 1ª. Divisão Militar no ano de 1855 e foi nomeado 1º. Ajudante-de-campo do rei D. Pedro V que o considerava como segundo pai. Entre os anos de 1859 e 1860 tomou posse da sua última presidência do Conselho de Ministros, por incumbência do rei D. Pedro V. Acumulou ao longo da sua vida uma colecção de distinções honoríficas e condecorações, as quais seria fastidioso enumerá-las. Faleceu no seu posto de trabalho no dia 26 de Abril de 1860, com 68 anos de idade e vitimado por uma pneumonia.

F I M
Bibliografia: “O papel-moeda em Portugal” Banco de Portugal. Wikipedia.org/Duque da Terceira. Trechos avulsos.

Publicado no Jornal das Caldas de 18-05-2011.

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