sábado, 19 de fevereiro de 2011



Artigo 40
Centenário da Implantação da República
(1910-2010)

O Papel-moeda

QUINHENTOS ESCUDOS
João de Deus


Chapa 1

À primeira nota de 500$00, emitida pelo Banco de Portugal, foi atribuída a chapa 1, figurando na parte da frente o retrato de João de Deus, eminente poeta de rara sensibilidade e autor da “Cartilha Maternal”. A gravação das chapas estampagem das notas, estiveram a cargo da firma Bradbury, Wilkinson & Co. Ltd., New Malden, Surrey. O fundo da nota está impresso tipograficamente e constituído por linhas verticais na zona do retrato de João de Deus, linhas ondulantes paralelas, um ponteado no espaço destinado à marca de água e um ornato multicolor em duplex, que foi estampado calcograficamente (talhe-doce), o motivo principal da frente da nota, a castanho escuro, com trabalho de torno geométrico em linha branca. O verso tem uma estampagem calcográfica a verde escuro, com duas figuras de criança, uma coroada de flores e tocando um instrumento pastoril e outra a simbolizar a Abundância, com largo trabalho de guilhoché em linha branca, sobre um fundo tipográfico semelhante ao da frente. O papel foi fabricado pela firma Spicers Ltd., de Londres, tem como marca de água, visto à transparência pela frente e do lado direito uma cabeça de mulher representando a República, de perfil para o centro. Dimensões da nota 180 x 114 mm. Foram emitidas 1 817 000 notas com as datas de 4 de Maio de 1922 e 8 de Dezembro de 1925. A primeira emissão, 26 de Setembro de 1922, e a última de 28 de Fevereiro de 1929. Foram retiradas de circulação em 17 de Setembro de 1929.
Biografia:
João de Deus de Nogueira Ramos, mais conhecido por João de Deus, nasceu em São Bartolomeu de Messines, a 8 de Março de 1830; era filho de Pedro José de Ramos e de sua mulher Isabel Gertrudes Martins. Era o quarto filho de uma geração de catorze irmãos. Com apenas 14 anos de idade e devido à situação económica da família de fracas posses, vê gorada a sua aspiração de uma carreira universitária, iniciando os seus estudos na terra natal onde estudou latim, ingressando após concluir estes, no Seminário de Coimbra. No ano de 1850 e vendo que não tinha vocação para a vida eclesiástica, abandonou o seminário e ingressou na Universidade de Coimbra, matriculando-se em direito. No ano de 1851 logo após o ingresso na Universidade, revelou os seus dotes líricos, escrevendo versos, dos quais obtinha modestos rendimentos para a sua subsistência. Neste mesmo ano escreveu o poema “Pomba” e a elegia “Oração”, sendo publicada na Revista Académica no ano de 1855, sendo merecedora de altos elogios. Do convívio entretanto encetado com os demais colegas universitários, envolveu-se na vida boémia coimbrã e preferindo as artes ao direito, o seu percurso académico foi bastante conturbado, com as diversas interrupções, reprovações e faltas. Neste espaço de tempo notava-se uma enorme passividade, e insucesso académico, que o levaram a viver uma vida muito modesta e de carências de toda a ordem, o que permitiu aos seus melhores amigos reunir toda a sua poesia e publicá-la na imprensa coimbrã. São desta época os poemas “Estreia Literária”, no “Ateneu” e no “Instituto de Coimbra”. Estas publicações granjearam-lhe enorme reputação como poeta lírico. Finalmente no ano 1859 terminou o curso, com muitas insistências dos seus melhores amigos. Ficou na cidade de Coimbra, praticando pouco a advocacia, preferindo continuar a escrever, mas desta feita poesia de carácter satírico, entre outras “A lata” e a “Marmelada”, no ano de 1860. No ano de 1862 aceitou o convite para redactor do periódico de Beja, então o de maior circulação no Alentejo. Permaneceu em Beja até ao ano de 1864, colaborando com diversos periódicos do sul do país. No ano de 1868, partiu para Lisboa, após fracassados os seus intentos de exercer advocacia. Na cidade de Lisboa levou uma vida de privações sendo frequentador assíduo do café Martinho da Arcádia. Para seu sustento recorreu à realização de traduções e à escrita de sermões e hinos para as cerimónias religiosas. No ano de 1868, apresentou-se às eleições para a 16ª.legislatura, como candidato independente pelo círculo de Silves, apoiado por António Garcia Blanco e Domingos Vieira, conseguindo ser eleito após um desempate de votos. É célebre a sua declaração publicada pelo Correio do Norte, onde retrata a sua atitude perante a actividade parlamentar: “Que diacho querem vocês que eu faça no Parlamento? Cantar? Recitar versos? Deve ser (…) gaiola que talvez sirva para dormir lá dentro a ouvir a música dos outros pássaros. Dormirei com certeza!”. Das treze sessões parlamentares que se realizaram faltou a dez. Casou com Guilhermina das Mercês Battaglia, advindo geração (dois filhos). No ano de 1869 publicou a colectânea “Flores do Campo”, a que se seguiu uma outra intitulada “Ramo de Flores”, considerada a melhor obra poética. Ao longo dos anos manteve a colaboração com a imprensa periódica, continuando as traduções de diversos autores, com destaque para comédias; “Amemos o Nosso Próximo”, “Ser Apresentado”, “Ensaio de Casamento” e “A viúva Inconsolável”. Em 1873 publicou textos em prosa “Ana”, “Mãe de Maria”, “A Virgem Maria” e “A Mulher do Levita de Ephraim”. No ano de 1876 após a morte de António Feliciano de Castilho, e perante certa descrença em que caíra o “Método Português de Castilho”, João de Deus, envolveu-se na campanha de alfabetização, escrevendo a “A Cartilha Maternal”, um novo método de ensino de leitura, mais apropriado aos tempos actuais, que o haveriam de distinguir como pedagogo de nomeada. Este método vanguardista e inovador para a época, abandona os métodos introduzidos por Feliciano de Castilho há 25 anos atrás, dando-lhe um carácter menos infantilizado. Esta obra “A Cartilha” foi adoptada como método nacional de aprendizagem da escrita da língua portuguesa. Foi alvo de rasgados elogios de parte de iminentes intelectuais da época como Adolfo Coelho e Alexandre Herculano. A publicação da “Cartilha Maternal” granjeou um culto extraordinário pela figura do poeta, tornando-o numa das figuras mais populares do último quartel do século XIX. No ano de 1880 e por influência do seu amigo Antero de Quental, adere ao ideário socialista. No ano de 1882 e por iniciativa de Casimiro Freire, reuniram-se dezenas de cidadãos e fundou-se a Associação de Escolas Móveis, com o fim de ensinar a ler, escrever e contar pelo método de João de Deus. A Associação é hoje a Associação de Jardins Escolas João de Deus, uma Instituição Particular de Solidariedade Social dedicada à educação e à cultura. No ano de 1895 foi organizada uma enorme homenagem nacional ao poeta, alegadamente por iniciativa dos estudantes de Coimbra; nesta homenagem a que o rei D. Carlos se associou, este condecorou-o com a Grã-Cruz da Ordem de Santiago de Espada. João de Deus faleceu na cidade de Lisboa a 11 de Janeiro de 1896, encontrando-se o seu túmulo no Panteão Nacional.
F I M


Bibliografia: “O papel-moeda em Portugal” Banco de Portugal. Wikipedia João de Barros. Trechos avulsos.

Óbidos Março de 2010. Publicado no Jornal das Caldas de 16-02-2011

1 comentário:

Paulo disse...

Que bom reencontra-lo, e cheio de espirito. Mende-me um e mail para paulo.luis.filipe@gmail.com, para ficar com o seu contacto