quarta-feira, 27 de outubro de 2010

CENTENÁRIO DA IMPLANTAÇÃO DA REPÚBLICA
Vultos da República
3º. Artigo


Francisco Teixeira de Queirós natural de Arcos de Valdevez, distrito de Viana do Castelo, nasceu a 3 de Maio de 1848, filho de José Maria Teixeira de Queirós e de sua mulher Antónia Joaquina Pereira Machado, notabilizou-se como romancista, contista, médico, exímio político, deputado e Ministro dos Negócios Estrangeiros. Era oriundo de famílias de poucos haveres, tendo exercido a pastorícia até aos 16 anos de idade. Por incumbência de um tio abastado deu início aos seus estudos formando-se mais tarde em medicina na Universidade de Coimbra, onde conviveu com João Penha e Eça de Queirós. Foi discípulo do realismo de Balzac e do naturalismo de Emílio Zola, que por vezes o contradiziam. Cultivou uma escrita de feição realista, fazendo críticas constantes e cerradas à alta sociedade lisboeta, evidenciando em especial os seus costumes, modos, maneiras de ser e agir perante a sociedade portuguesa. Por outro lado, nalgumas obras retrata de uma forma saudosa o seu tempo de infância vivido na sua terra, recordando a sua vida rural de pastor. Publicou o seu primeiro romance no ano de 1876 sob o pseudónimo de Bento Moreno, “Amor Divino”. A sua obra literária foi previamente elaborada, com a iniciação de duas séries de contos e romances, a que deu os títulos “Comédia do Campo”, onde retratava a vida rural e tudo o que a ela diz respeito, e Comédia Burguesa”, relacionada com a vida citadina, com uma tenacidade e insistência notáveis. Destaque de algumas das suas obras:
“Série Comédia do Campo”: Publica no ano de 1876 os “Os Meus Primeiros Contos”; em 1877, “Amor Divino”; 1882 ”António Fogueira”; 1887 “Novos Contos”; 1897 “Amores, Amores…”; 1899 “A Nossa Gente”; 1913 “A Cantadeira”; e em 1915 “Ao Sol e à Chuva”.
“Série Comédia Burguesa”: Publica no ano de 1879 “Os Noivos”; em 1883 “O Salústio Nogueira”; 1894 “D. Agostinho”; 1895 “Morte de D. Agostinho”; 1898 “O Famoso Galrão”; 1901 “A Caridade em Lisboa”; 1906 “Cartas de Amor”; e em 1919 no fim de sua vida “A Grande Quimera”. Além destas séries publicou, “O Grande Homem”, no ano de 1891, que veio a ser adoptado como peça de teatro.
Casou com Teresa Narcisa de Oliveira David, donde adveio uma geração de seis filhos.
Foi vereador no ano de 1885 na cidade de Lisboa. Foi deputado na legislatura de 1893. Fez parte integrante das Cortes Constituintes no ano de 1911 como deputado, pelo círculo da antiga “Aldeia Galega”, hoje “Montijo”, cargo que renunciou uns meses após tomar posse. Foi nomeado Ministro dos Negócios Estrangeiros na governação de Pimenta de Castro, no ano de 1915.
Faleceu na vila de Sintra em 22 de Julho de 1919.
FIM
Óbidos, Agôsto de 2010

Publicado no Jornal das Caldas de 27-10-2010

quinta-feira, 21 de outubro de 2010




Artigo 26
Centenário da Implantação da República
(1910-2010)
Numária

O Papel-moeda
CINQUENTA ESCUDOS

Duque de Saldanha

Chapa 5

O retrato do Duque de Saldanha, insigne marechal do exército português, homem de Estado, do século XVIII e século XIX foi a personagem escolhida para figurar na frente da nota, sobre um fundo tipográfico em íris multicolor com trabalho em duplex de protecção, destacando-se a gravura principal, estampada por técnica calcográfica, a violeta, com cercadura de guilhoché em linha branca e linha cheia. O verso tem uma estampagem calcográfica a azul-escuro, de uma gravura representativa da vida rural, e também trabalho de guilhoché em linha branca e linha cheia. A estampagem das notas foi efectuada pela casa inglesa Thomas De La Rue & Co. Ltd. de Londres. O papel foi fabricado por Portals Limited, Laverstoke Mills, Whitchurch, Hampshire, de Inglaterra, tendo como marca de água, visto à transparência pela frente, no lado direito uma cabeça de perfil para o centro. Dimensões da nota 163 x 90 mm. Foram emitidas 6 297 000 notas com a data de 18 de Novembro de 1932. Primeira emissão, 27 de Abril de 1936, e a última emissão, 29 de Agosto de 1938. Foram retiradas de circulação em 27 de Março de 1945.
Biografia:
João Carlos Gregório Domingos Vicente Francisco de Saldanha Oliveira e Daun, mais conhecido por Duque de Saldanha nasceu em Lisboa a 17 de Novembro de 1790, filho de João Vicente de Saldanha Oliveira e Sousa Juzarte Figueira, conde de Rio Maior e de sua mulher D. Maria Amália Carvalho Daun, condessa, filha do Marquês de Pombal. Foi um militar com excepcionais capacidades de chefia, com uma personalidade impulsiva e agressiva; político ambicioso que estava sempre ao corrente dos acontecimentos do seu tempo. Desempenhou diversos cargos, sendo Marechal general do exército, par do reino, conselheiro de estado efectivo, presidente do Conselho de Ministros, ministro da Guerra e ministro plenipotenciário em Londres, mordomo-mor da Casa Real, vogal do Supremo Conselho de Justiça Militar. Títulos nobiliários: 1º.Conde, 1º. Marquês e 1º. Duque de Saldanha.
No ano de 1805 matriculou-se na Academia Real da Marinha, distinguindo-se como um brilhante aluno, recebendo diversas distinções. Neste mesmo ano ingressou no Regimento de Infantaria nº. 1, com o posto de capitão e com a tenra idade de 16 anos. Em 1808, Portugal foi invadido e ocupado pelos franceses, sendo demitido. Juntou-se à resistência, onde participou em diversas batalhas, uma das quais a do Buçaco, tendo desempenhado brilhantemente o seu papel de militar, sendo admirado pelos seus homens. Terminada a guerra tinha o posto de tenente-coronel. No ano de 1814 casou com Maria Teresa Horan Fitzggerald, de origem irlandesa. No ano de 1815 é promovido ao posto de coronel e embarca para o Brasil como adido ao Estado-Maior. No ano seguinte foi recebido pelo príncipe regente D. João com as maiores distinções, nomeando-o cavaleiro da ordem de Cristo e comendador da Ordem de Torre Espada. Participou nesse ano na campanha de Montevideu, onde mais uma vez se distinguiu. No ano de 1822, e porque os ventos de mudança soavam à independência, pediu a demissão dos cargos que exerceu até então no Brasil e partiu para Portugal. Mal desembarcou foi nomeado comandante de uma expedição militar que ia para o Brasil, o qual recusou, sendo de imediato preso no castelo de S. Jorge, no ano de 1823. Foi libertado alguns meses depois por ordem do rei D. João VI. Foi nomeado governador das armas do Porto, em Abril de 1825. No ano de 1826 foi-lhe atribuída a pasta da guerra. No ano de 1827 pediu a demissão, por não concordar com determinados movimentos que estavam a suceder, a qual foi aceite, provocando o abandono dos cargos governativos e a partida para Londres. No ano de 1828 regressou ao Porto, para encabeçar a revolta liberal contra o governo de D. Miguel. Neste mesmo ano organizou uma expedição com cerca de 650 homens (emigrados liberais), para desembarcar na Terceira, o qual foi impedido por uma esquadra inglesa. No ano de 1833 regressa a Portugal juntando-se às tropas de D. Pedro, obtendo notáveis vitórias, sendo promovido ao posto de marechal. Alcançada a paz, tornou-se deputado e chefe de governo. A rainha D. Maria II nomeou-o embaixador em algumas cortes europeias. Desempenhou por quatro vezes a função de 1º. Ministro, sempre pautadas pela instabilidade. Foi homem das artes, da ciência, autor romântico, filósofo, escrevendo vários tratados e livros. Ao longo da sua vida foi agraciado com comendas e honrarias militares. Possuía as seguintes honras: grã-cruz das ordens de Cristo, da Torre e Espada, de Nossa Senhora da Conceição de Vila Viçosa, de S. Tiago, e de S. João de Jerusalém; das seguintes ordens estrangeiras: S. Fernando, Isabel a Católica e Carlos lII de Espanha; da Legião de Honra, de França; de S. Gregório Magno e da Pio IX, de Roma, de Ernesto Pio, de Saxe-Coburgo; de Leopoldo, da Áustria; do Leão, dos Países Baixos; de S. Maurício e S. Lazaro, de Itália; de Leopoldo, da Bélgica; de Alberto, o Valoroso, de Saxónia; do Salvador, da Grécia; da Águia Branca, da Rússia; cavaleiro da ordem do Tosão de Ouro, de Espanha, da Santíssima Anunciada, de Itália; condecorado com as medalhas do Buçaco, de S. Sebastião e de Nive; de 6 batalhas da Guerra Peninsular, da Estrela de Montevideu, etc.;
No ano de 1871 tentou um golpe de Estado, ficando na história como a “saldanhada”, que não lhe foi favorável, terminando mal. Por este motivo foi-lhe dado o cargo de embaixador em Londres, onde faleceu a 20 de Novembro de 1876.

F I M
Bibliografia: “O papel-moeda em Portugal”. Banco de Portugal. Wikipedia. História de Portugal de Manuel Pinheiro Chagas. Trechos avulsos.
Óbidos, Fevereiro de 2010.
Publicado no Jornal das Caldas em 20-10-2010.
2º. Artigo
CENTENÁRIO DA IMPLANTAÇÃO DA REPÚBLICA
Vultos da República


Joaquim de Azevedo de Sousa Vieira da Silva Albuquerque nasceu na cidade do Porto em 16 de Agosto de 1839, filho de João Azevedo de Sousa Vieira da Silva e Albuquerque e de sua mulher D. Joaquina Carlota Barreto de França. Formou-se em Engenharia Civil pela Academia Politécnica do Porto, no ano de 1861. Foi professor de liceu e mais tarde lente da Academia que o formou em matemática. Casou no ano de 1869 com Helena Eulália Gonçalves Pinto de quem teve cinco filhos. Era um orador de nomeada, tendo realizado na cidade do Porto nos anos de 1884 e 1885, diversas conferências, na Sociedade de Instrução do Porto, da qual era presidente, versando sobre o tema “A Máquina e o Mundo”, onde se divulgou um novo método de estudo da Cinemateca. Foi um dos republicanos que participaram na revolta do Porto em 31-01-1891, sendo indigitado para fazer parte do Governo Provisório. No ano de 1892 inscreve-se na Loja Maçónica do Porto com o nome de “Condorcet”. No ano de 1904, foi eleito membro efectivo da Comissão Municipal Republicana do Porto conjuntamente com outros republicanos de nomeada; “Afonso Costa, António Luís Gomes, etc…” Foi sócio da Sociedade de Geografia de Lisboa, filial do Porto. Da sua obra literária, deixou-nos a tradução do Dicionário de Educação e Ensino conjuntamente com Camilo Castelo Branco. Foi autor de vasta bibliografia escolar e cientifica na área de matemática. No ano de 1910 e devido à sua avançada idade aposentou-se. Foi considerado o mais idóneo republicano, pois era aquele que mais idade tinha quando foi Implantada a República. Toda a sua vida foi dedicada à causa Republicana. Faleceu na cidade do Porto em 21-01-1912.
Fim
Fontes: Almanaque republicano – comissão municipal republicana do Porto. Trechos avulsos.
Óbidos, Agosto 2010
Publicado no Jornal das Caldas em 20-10-2010

quarta-feira, 13 de outubro de 2010





Artigo 25
Centenário da Implantação da República
(1910-2010)
Numária
O Papel-moeda
1910 – 2010

CINQUENTA ESCUDOS

Borges Carneiro



Chapa 4

A ilustre personagem que figura nesta nota é Borges Carneiro defensor acérrimo da causa liberal. A casa Bradbury, Wikinson & Co. Ltd. New Malden, Surrey, procedeu à gravação de todas as chapas para o fabrico das referidas notas assim como também à respectiva estampagem. A frente da nota apresenta desenhos de cor violeta sendo estampados calcográficamente (talhe - doce), com trabalho de torno geométrico. O fundo multicolor de técnicas tipográficas, é composto por dois conjuntos de linhas ondulantes, que se cruzam, e um ornato central em duplex, que rodeia o retrato de Borges Carneiro. O verso impresso tipograficamente em íris com uma rede formada por linhas ondulantes, onde sobressai a estampagem calcográfica, a azul de uma vista da Universidade de Coimbra. Os ovais laterais são emoldurados com um trabalho de torno geométrico (guilhoché), observando-se no oval da direita uma cabeça numismática representando Minerva. A zona da marca de água está livre de qualquer impressão. Dimensões da nota 163 x 90 mm. Foram emitidas 9 329 000 notas com as datas de 17 de Setembro de 1929 e 7 de Março de 1933. Primeira emissão, 21 de Dezembro de 1931 e a última emissão, de 27 de Abril de 1936.
Foram retiradas de circulação em 27 de Março de 1945.
Biografia:
Manuel Borges Carneiro nasceu na vila de Resende em 2 de Novembro de 1774, filho de José Borges Botelho, bacharel e de sua mulher D. Joana Tomásia de Melo. Foi um distinto, magistrado, jurisconsulto, político, deputado às Cortes Gerais e Extraordinárias da Nação e um dos heróis dos acontecimentos de 1820. No ano de 1791 matricula-se na Universidade de Coimbra, formando-se em Cânones; no ano de 1800, requer habilitação para o Desembargo do Paço. No ano de 1803, sendo admitido na carreira da magistratura, foi prestar serviço por três anos para Viana do Alentejo como juiz de fora. No ano de 1805 é reconduzido naquele cargo, por mais três anos, assumindo a categoria de cabeça de comarca. Em 1808, aquando da primeira invasão francesa, comandada pelo general Junot, este nomeou delegado no Alentejo o general François Kellemann. Este general usou de uma dureza tal, a qual incitou à resistência popular, tendo Borges de Carneiro tomado logo de inicio uma posição de charneira. Esta sua atitude valeu-lhe a prisão num convento de Beja, onde aí escreveu alguns versos que mais tarde publicou. No ano de 1812 e terminada a ocupação francesa, Borges de Carneiro foi nomeado provedor da comarca da cidade de Leiria; é por esta altura que inicia a publicação de diversas obras de índole jurídica, as quais lhe permitiram afirmar-se como um promissor jurisconsulto. No ano de 1817 e como reconhecimento da sua formação jurídica é nomeado secretário da Junta do Código Penal. No mesmo ano, levando em atenção a ausência prolongada da corte no Brasil desde 1808, e também o domínio britânico representado pelo marechal general Beresford, fez crescer o descontentamento popular, dando origem a várias conspirações, uma das quais que foi abortada e levou à execução do general Gomes Freire de Andrade. No ano de 1820, este desempenhou um notável trabalho na Junta, o qual lhe valeu um cargo de Desembargador supranumerário da Relação da Casa do Povo. No mesmo ano de 1820 um grupo de personagens do Porto agrupados no ”Sinédrio”(associação secreta criada em Portugal, na cidade do Porto, pelo desembargador Manuel Fernandes Tomás, José Ferreira Borges, José da Silva Carvalho e outros, em 22 de Janeiro de 1818. Era um dos sinais que antecederam a implantação do liberalismo em Portugal, sendo encorajada pela revolução espanhola do mesmo ano); preparou um levantamento no Porto, que se iniciou em Agosto e foi seguido em Lisboa no mês seguinte, onde se encontrava Borges Carneiro. Eleito deputado no ano de 1821, e eleita a regência, coube a Borges Carneiro um lugar de destaque, pelo seu notável desempenho em acções anteriores, propondo de imediato que se criassem cinco Secretarias de Estado; (Reino, Fazenda, Guerra, Marinha e Negócios Estrangeiros). Aprovada, assinada e jurada a Constituição Politica da Monarquia, no ano de 1822, foram convocadas eleições gerais, sendo Borges Carneiro eleito por seis círculos eleitorais, ficando a representar um dos círculos de Lisboa tal tinha sido a sua acção nas Constituintes. As novas Cortes procederam de imediato a reformas profundas, extinguindo a Inquisição, a Intendência Geral da Polícia, o Tribunal da Inconfidência, a Mesa da Consciência e Ordens, o Desembargo do Paço, a “tortura”, as coutadas, etc… Procedeu-se à reorganização da Universidade de Coimbra, à modernização da Companhia dos Vinhos do Alto Douro, da agricultura, do sistema judicial, etc… No ano de 1823 deu-se a “Vilafrancada”, (insurreição levada a cabo e liderada pelo infante D. Miguel, em Vila Franca de Xira, a 27 de Maio de 1823, com o fim de restaurar o “Absolutismo”, que tinha sido abolido aquando da implantação do regime liberal). Devido ao triunfo de D. Miguel, nesse mesmo ano, Borges Carneiro foi demitido de desembargador da Relação e Casa do Porto, voltando à vida privada, continuando com os seus estudos jurídicos e literários. No ano de 1826, e após a morte do soberano Rei D. João VI, foi aclamado Rei o seu filho D. Pedro que outorgou a Carta Constitucional, abdicando de imediato em favor da sua filha D. Maria. Nas eleições que se seguiram Borges Carneiro foi eleito deputado, vendo-lhe restituído o cargo de desembargador da Relação e Casa do Porto. Em 1827 foi nomeado desembargador ordinário da Casa da Suplicação de Lisboa. Entre os anos de 1826 e 1827, inicia a publicação do “Direito Civil Português”, em três volumes. Neste espaço de tempo notabiliza-se como um dos mais aguerridos defensores da liberdade e como principal jurisconsulto do novo sistema. No ano de 1828, D. Miguel auto proclamou-se rei e tomou de imediato as rédeas do governo do Reino, dissolvendo as Cortes, declarando-se Rei Absoluto. Foi um reinado de terror com as prisões repletas de presos políticos, que manifestavam e abraçavam as ideias liberais. Entre muitos Borges Carneiro no mês de Agosto, foi demitido de desembargador e mandado encarcerar no Limoeiro em Lisboa; daqui e com outros prisioneiros foi transferido para a Torre do Forte de São Julião da Barra. No ano de 1833, com a deflagração da epidemia de cólera que afectou Portugal, fazendo milhares de mortes só em Lisboa, foram transferidos alguns presos políticos para a vila de Cascais, um deles, Borges Carneiro. Faleceu na vila de Cascais vitimado com a cólera morbus no dia 4 de Julho, tendo aí sido sepultado. No ano de 1879 os restos mortais foram depositados na igreja de Cascais e daqui foram transladados com toda a solenidade para o cemitério dos Prazeres em Lisboa.
Obras publicadas: - Pensamentos do juiz de fora de Viana do Alentejo; Extracto das leis, avisos, provisões, assentos e editais publicados nas Cortes de Lisboa e Rio de Janeiro, desde 1807 até 1816; Mapa cronológico das leis e mais disposições de direito português, publicadas desde 1603 até 1817; Resumo cronológico das leis mais úteis no foro da vida civil; Gramática, ortografia e aritmética portuguesa, ou arte de falar, escrever e contar, 1820;Portugal regenerado em 1820; Parábolas acrescentadas ao Portugal regenerado, 1820; A Magia, e as superstições desmascaradas, 1820; Apêndice sobre as operações da Santa Inquisição Portuguesa; Juízo sobre a legislação em Portugal, 1821; Diálogo sobre os futuros destinos de Portugal, 1821; Carta a Sua Majestade Luís XVIII, rei de França, 1823; Direito civil de Portugal, 3 volumes, 1826 a 1828; Resumo de alguns livros de Santos, 1827.

F I M

Bibliografia: “O papel-moeda em Portugal”. Banco de Portugal. Wikipedia. Trechos avulsos.
Óbidos, 18 de Fevereiro de 2010.

Publicado no Jornal das Caldas em 13-10-2010

terça-feira, 12 de outubro de 2010


1º. Artigo
CENTENÁRIO DA IMPLANTAÇÃO DA REPÚBLICA
Vultos da República


Manuel José de Arriaga Brum da Silveira, mais conhecido por Manuel de Arriaga nasceu na cidade da Horta na ilha do Faial em 8 de Julho de 1840, filho de Sebastião José de Arriaga Brum da Silveira oriundo de famílias aristocráticas e descendente de flamengos que se radicaram na ilha no século XVII, e de sua mulher Maria Cristina Pardal Ramos Caldeira, também ela de origem aristocrática, natural da cidade de Lisboa. Na família houve ascendentes que se notabilizaram e distinguiram na Guerra Peninsular, e como deputados pelos Açores às Cortes Gerais. Foi um excelente advogado, professor, escritor e político. Caracterizou-se pela sua oratória directa, sendo um destacado membro da geração doutrinária republicana, que o viria a guindar ao mais alto cargo da nação, sendo eleito no ano de 1911 Primeiro Presidente da República Portuguesa.
Fez os estudos gerais na cidade da Horta, findos os quais se matriculou no curso de Direito da Universidade de Coimbra. De muito cedo se destacou como notável orador e aluno brilhante, aderindo ao positivismo filosófico e ao republicanismo democrático, passando a frequentar as tertúlias filosóficas e políticas. Foi obrigado a trabalhar para sustentar os seus estudos e do seu irmão, leccionando o inglês como professor particular, fruto de conhecimento que entretanto tinha adquirido com a sua preceptora de origem americana contratada pela família. A razão desta atitude prende-se com a sua adesão ao ideário republicano, então considerado subversivo, que o seu pai monárquico e conservador não tolerou cortando relações e proibindo-o de regressar a casa. Formou-se no ano de 1865 e no ano seguinte abriu escritório na cidade de Lisboa, onde se radicou, notabilizando-se obtendo uma carteira de clientes que lhe permitiram uma segurança financeira aceitável. No ano de 1866 tentou ingressar na docência do ensino superior, concorrendo a um lugar de professor da 10ª.cadeira da Escola Politécnica de Lisboa sem o conseguir. Foi um cultor da poesia e da literatura, mantendo desde os tempos de Coimbra até ao fim de sua vida uma actividade literária que integravam a Geração de 70. No ano de 1871 foi um dos doze signatários das conferências democráticas do casino Lisbonense. Casou com Lucrécia Augusto de Brito de Berredo Furtado de Melo, filha do general Roque Francisco Furtado de Melo, natural da ilha do Pico, de onde adveio uma geração de 5 filhos. No ano de 1876 foi nomeado vogal da Comissão para a Reforma da Instrução Primária. Em 1878 concorreu para uma vaga de professor da História Universal e Pátria do Curso Superior de Letras, voltando a ser preterido, apesar da eloquência da sua dissertação, devido à fama que granjeava de revolucionário, o que de certa maneira influenciou a decisão do júri. Conseguiu um lugar de professor de inglês do Liceu de Lisboa, cargo que manteve durante largos anos. No ano de 1878 concorreu pela primeira vez a um lugar de deputado nas Cortes, integrando a lista do partido republicano, saindo derrotado. No ano de 1881 sofreu um desgosto pela morte de seu pai, herdando todos os bens familiares, pois o seu irmão tinha falecido precocemente. Neste mesmo ano empenha-se novamente na campanha republicana para as eleições de Agosto, saindo novamente derrotado. É eleito pela primeira vez deputado republicano, pelo círculo da Madeira, apresentando-se com o convite de uma comissão de comerciantes e industriais funchalenses, pois estava desiludido com os partidos do rotativismo, beneficiando assim da ausência do Partido Regenerador. Toma posse no ano de 1883, sendo o segundo republicano a tomar assento no parlamento português, juntando-se a José Elias Garcia, que ali tinha assento desde do ano de 1881. A 1ª.medida apresentada no parlamento por Manuel de Arriaga foi uma proposta que visava eliminar o juramento de fidelidade ao rei e à Carta Constitucional a que todos os parlamentares estavam obrigados, proposta esta rejeitada. Durante os anos de 1883 e 1884, apresentou diversas propostas legislativas, todas rejeitadas pelo parlamento; durante este espaço de tempo renunciou ao seu vencimento como professor, recebendo o subsídio parlamentar a que tinham direito os deputados. Terminado este mandato não foi reeleito. Entre os anos de 1883 e 1892, devido ao prestígio adquirido e sendo admirado nas Cortes obteve uma projecção de relevo no Partido Republicano Português, revelando-se um orador distinto e dando um forte contributo para a estruturação do partido. Foi eleito por quatro vezes deputado pelo círculo da Madeira pelo partido republicano. Candidatou-se a deputado no ano de 1889 pelo círculo da sua cidade natal, onde ficou em quarto lugar, em parte devido ao meio conservador das ilhas não lhe ser favorável, não conseguindo a eleição. No ano de 1890 foi preso em consequência das manifestações de 11 de Fevereiro, relativas ao Ultimato inglês. Exerceu o cargo de vereador pelo partido republicano na Câmara de Lisboa. Devido aos acontecimentos relacionados com o Ultimato inglês, ao descontentamento das populações contra o rei e aos partidos do rotativismo, concorre pelo círculo de Lisboa, sendo eleito com larga margem, em conjunto com outros dois (Elias Garcia e Latino Coelho). No ano de 1891 era elemento preponderante do directório do Partido conjuntamente com Azevedo e Silva, Teófilo Braga, etc…Entre os períodos de 1899 e 1907 e apesar de uma forte actividade das suas intervenções políticas anteriores, afastou-se, dedicando-se às suas obras literárias, publicando neste espaço de tempo dois livros de poesia e um de prosa. No ano de 1910 e após a Proclamação da República, foi nomeado reitor da Universidade de Coimbra, tendo como vice-reitor Sidónio Pais. Neste mesmo ano foi nomeado Procurador-Geral da República. Em Abril de 1911 foi eleito deputado à constituinte pelo círculo da Madeira, onde mais uma vez se revela como hábil e notável orador, não partilhando o anti-clericalismo de alguns republicanos. Em Agosto do mesmo ano foi eleito Presidente da República Portuguesa, por proposta de António José de Almeida, recolhendo 121 votos dos 217 em causa, sendo os restantes distribuídos por; Bernardino Machado 86; Duarte Leite 1; Sebastião Magalhães de Lima 1; Alves da Veiga1; e 4 votos em branco. Exerceu o cargo de Presidente da República entre 24 de Agosto de 1911 e 26 de Maio de 1915. O seu mandato foi muito atribulado devido às incursões monárquicas de Paiva Couceiro e também pela instabilidade política que reinava no Partido Republicano Português, que entretanto se desmoronava, dando origem à ala radical de Afonso Costa. Deu posse aos seguintes governos:
1)- João Chagas de 03-09-1911 a 12-11-1911; 2)- Augusto de Vasconcelos de 12-11-1911 a 16-06-1912; 3)- Duarte Leite de 16-06-1912 a 09-01-1913; 5)- Afonso Costa de 09-01-1913 a 09-02-1914; 6)- Bernardino Machado por duas vezes, de 09-02-1914 a 23-06-1914 e de 23-06-1914 a 12-12-1914; 7)- Victor Hugo Azevedo Coutinho de 12-12-1914 a 25-01-1915, originando o “Movimento das Espadas”, caracterizado pela insubordinação militar, em que se destacaram o capitão Martins de Lima e o comandante Machado dos Santos, que conduziram à demissão deste governo. 8)- Pimenta de Castro de 25-01-1915 a 14-05-1915; 9)- À Junta Revolucionária de 14-05-1915 a 15-05-1915; e por último a João Chagas de 15-05-1915 a 17-05-1915, o qual não tomou posse. Em 1915 convidou Pimenta de Castro para formar governo, dando origem à instauração de uma ditadura, com a dissolução inconstitucional do Congresso da República. Tal provocou o descontentamento dos republicanos, levando os parlamentares reunidos secretamente no palácio da Mitra em 4 de Maio, a declararem Manuel de Arriaga e Pimenta de Castro fora da lei e da anulação dos seus actos, o que originou uma revolta, a “Revolta do 14 de Maio”, desencadeada pelos republicanos democráticos com apoio da Marinha, provocando cerca de 200 mortos, derrubando o governo de Pimenta de Castro. Manuel de Arriaga cansado e um pouco desiludido com a política de então, abandona o cargo em 26 de Maio de 1915 e a política em definitivo, acusado de ter traído os ideais republicanos democráticos que durante toda a sua vida por eles se debateu e defendeu. Foi substituído na Presidência da República pelo professor Teófilo Braga. Não há cidade em Portugal em que não esteja representada na sua toponímia o nome de Manuel de Arriaga, em avenidas, ruas, largos ou praças.Faleceu na cidade de Lisboa a 5 de Março de 1917, sendo sepultado no jazigo de família no Cemitério dos Prazeres. Anos mais tarde, em 2004 e por decisão votada unanimemente pela Assembleia da República foi transladado para o Panteão Nacional de Stª. Engrácia.
FIM
Fontes: dicionário lello universal. História da 1ª. Republica. Óbidos Agosto de 2010

Publicado no Jornal das Caldas de 6 de Outubro de 2010