quarta-feira, 1 de setembro de 2010


Artigo 21
Centenário da Implantação da República
(1910-2010)
Numária
O Papel-moeda
1910 – 2010
Por: Luís Manuel Tudella


VINTE ESCUDOS
Gago Coutinho


Chapa 9



À última nota de vinte escudos, coube a chapa nove evocando a figura do cientista, historiador, matemático, geógrafo e navegador, Almirante Gago Coutinho.
A elaboração das estampagens esteve a cargo da firma inglesa Thomas De La Rue & Co. Ltd. Basingstoke, Hampshire, e as maquetas são da autoria do arquitecto João de Sousa Araújo. A frente da nota é feita em diversos tons de verde e contem a efígie de Gago Coutinho, a rosa-dos-ventos, o escudo nacional, dísticos e diversos ornamentos geométricos. Pode-se ver ainda na parte central um astrolábio e o sextante de navegação aérea inventado por Gago Coutinho. O verso também efectuado em tons esverdeados, mostra um conjunto simbolizando o inicio da navegação aérea astronómica e ainda a representação esquemática dos continentes sul-americano, africano e europeu com a indicação da rota, sobre o Atlântico, seguida pelo Almirante, no ano de 1922, na sua viagem de Lisboa ao Rio de Janeiro. O papel é fabricado por Portals Limited, Overton, Basingstoke, Hampshire; tem como marca de água, na metade esquerda da nota, o retrato de Gago Coutinho. Dimensões da nota 135 x 66 mm. Foram emitidas 109 527 000 notas, com as datas de 13 de Setembro de 1978 e 4 de Outubro do mesmo ano. Primeira emissão, 21 de Dezembro de 1978 e última, 17 de Novembro de 1982. Foram retiradas de circulação em 30 de Maio de 1986.
Biografia.
Carlos Viegas Gago Coutinho, mais conhecido pelo nome de Gago Coutinho nasceu em Lisboa em Fevereiro de 1869, filho de José Viegas Gago Coutinho, marítimo, natural de Faro, e de sua mulher Fortunata Maria Coutinho, natural de Faro. Em virtude das poucas posses monetárias do pai, não pode satisfazer as suas ambições, que consistia na frequência de um curso de Engenharia na Alemanha. Inicia a sua carreira como marinheiro. Após terminado o Liceu, ingressa na Escola Politécnica e, no ano de 1886 alista-se como aspirante na Marinha, terminando o curso na Escola Naval no ano de 1888. No ano de 1889 inicia o trabalho de cartografia, com missões em Timor, Moçambique, Angola, Índia e S. Tomé e Príncipe. No ano de 1890 e notando-se nele qualidades ímpares, tem uma rápida e brilhante ascensão na carreira, sendo promovido a guarda – marinha. No ano de 1891 é promovido ao posto de segundo – tenente. No ano de 1893 faz sua primeira grande viagem; embarca no navio Mindelo, cujo comandante era o almirante Augusto de Castilho, entre Luanda e o Rio de Janeiro. No ano de 1895 é promovido a primeiro – tenente. A segunda grande viagem é levada a cabo no navio Pero de Alenquer, de Lisboa a Lourenço Marques, seguindo a histórica rota de Vasco da Gama. Esta viagem deu-lhe grandes ensinamentos para o estudo sobre “Náutica dos Descobrimentos”. No ano de 1900 é nomeado o representante português para a delimitação da fronteira luso-britânica nos territórios do Niassa. No ano de 1901 como comissário de Portugal fez parte de uma comissão de delimitação da fronteira luso belga de Noqui ao Congo. No ano de 1904, na colónia de Moçambique delimitava as fronteiras ao norte e sul da província de Tete. Em 1906 chefia a missão geodésica à África Oriental, fazendo o levantamento geodésico com a África do Sul. No ano de 1907, é promovido a capitão-tenente. Entre 1913 e 1914, comandou a missão de delimitação das fronteiras de Angola com a Rodésia, surgindo como colaborador o segundo-tenente Artur Sacadura Cabral. No ano de 1915 obtêm o seu brevete, ou a “Carta de piloto do ar”, em França, num frágil “Maurice Farman”. O baptismo de voo realizou-se em Portugal, na Escola de Aviação Militar em Vila Nova da Rainha, acompanhado pelo piloto-aviador Sacadura Cabral, no ano de 1917. É promovido a capitão de mar e guerra no ano de 1918. É promovido por distinção ao posto de contra-almirante, no ano de 1922. Foi neste ano de 1922 que se realizou a primeira Travessia Aérea do Atlântico Sul. Esta viagem seria dividida em quatro etapas. Acompanharam esta travessia os navios de guerra “República”, “Cinco de Outubro” e “Bengo”, que iriam prestar a assistência de voo. Acompanhou o Almirante Gago Coutinho o piloto aviador Sacadura Cabral. A primeira etapa da viagem correu sem problemas de maior, de Lisboa a até Las Palmas, durando 8 horas e 17 minutos. A segunda etapa levou-os da ilha de Gando, até S. Vicente no arquipélago de Cabo Verde, demorando 10 horas e 43 minutos. A terceira etapa da viagem, efectuou-se sobre o auspício da falta de combustível e do forte vento que se fazia sentir em sentido contrário, não auxiliando em nada a progressão mais rápida do avião. Após a elaboração de cálculos procedeu-se a uma descida forçada junto aos penedos com escassos litros de gasolina no tanque, sobre um mar cavado que arrancou um dos flutuadores, o que levou à inclinação do hidroavião, metendo água na proa. Durante o espaço de tempo que mediou entre a amaragem e o envio por parte do Governo de novo hidroavião os dois heróis permaneceram na ilha Fernando de Noronha. Entre a terceira e quarta etapa problemas estiveram sempre presentes, ao ponto de quando iriam iniciar a última etapa com o novo hidroavião, após a passagem pelos penedos em direcção ao Brasil, de súbito o motor parou obrigando a uma amaragem de emergência, mas desta feita com mar calmo. O tempo de espera por auxílio teve como consequência uma situação imprevista, na qual os flutuadores metiam água, afundando o hidroavião lentamente, sendo resgatados pelo navio britânico Paris-City. Voltaram à ilha Fernando de Noronha e novamente solicitaram ao Governo o envio de um outro, o qual foi atendido de imediato. A quarta e última etapa fez-se em pequenos lances até alcançarem a cidade do Rio de Janeiro, passando pelo Recife, Baía, Porto Seguro e Vitória. O hidroavião amarou na baía de Guanabara no Rio de Janeiro no dia 17 de Junho.
Foram percorridas 4 527 milhas náuticas e gastas 62 horas e 26 minutos, a uma velocidade média de 72,5 milhas por hora. Esta proeza foi realçada em toda a imprensa mundial, pois as condições em que foi efectuada, a qualidade do material empregue na construção dos hidroaviões, a pouca experiência dos heróis, só foi possível pelo crer, a dinâmica a persistência e grande força de vontade de vencer de Gago Coutinho e Sacadura Cabral.A sua competência como geógrafo granjeou-lhe a nomeação pelo Ministério da Guerra, no ano de 1928, a Presidência da Comissão, para a reorganização dos serviços geográficos, cadastrais e cartográficos, tanto em Portugal como nos Açores e restantes colónias, para estudar o estabelecimento de um aeroporto nos Açores, e a navegação aérea nas colónias. Neste mesmo ano, foi encarregado pelo Ministério das Colónias para proceder a estudos cartográficos em França, Itália e Brasil. Desempenhou funções de Presidente da Comissão da Cartografia; destaca-se a sua participação como associado do Instituto Histórico e Geográfico do Rio de Janeiro, da Sociedade de Geografia de Lisboa e da Sociedade de Geografia do Rio de Janeiro. No ano de 1932 é promovido ao posto de vice – almirante. Em 1958 é promovido a Almirante. Com 75 anos de idade, fez a bordo da barca portuguesa Foz do Douro, uma travessia à vela entre Santos (Brasil) e Leixões, demorando cerca de 105 dias, utilizando o astrolábio, como os antigos mareantes portugueses. Segundo estudos, calcula-se que o Almirante Gago Coutinho tenha percorrido 30 837 milhas marítimas um recorde para o seu tempo. A sua prestação de serviço a bordo dos navios consistia exclusivamente a de “oficial encarregue da navegação”.
O seu muito saber de geógrafo e de navegador de larga experiência, permitiram-lhe dedicar-se aos estudos de navegação aérea ainda incipientes nessa época. O sextante português, utilizado na Travessia do Atlântico Sul, é um dos exemplos materiais do valor científico dos inovadores trabalhos e missões do Almirante.
Faleceu na cidade de Lisboa em 18 de Fevereiro de 1959.
F I M

Biografia: “O papel-moeda em Portugal” Banco de Portugal. http://www.citi.pt/cultura/história/personalidades, e trechos avulsos.
Publicado no Jornal das Caldas em 01-09-2010

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