Centenário da
Primeira Batalha do Rovuma
(Grande Guerra
1914-1918)
A Batalha de
Namiranga - Namaca
27-05-1916 -
27-05-2016
(Inserida na 2ª.
Expedição ao Rovuma)
2ª. Parte
Morfologia e
Operações
A
morfologia do norte de Moçambique exerceu influência profunda na conduta das
operações ao longo destas quatro expedições pela natureza e características do
relevo e densa arborização, alguma de grande porte. A densidade da arborização
nalguns locais dificultava a marcha, as operações de reconhecimento, sendo a
segurança efectivada pela Infantaria a arma com maior possibilidade de
progressão. O apoio da Artilharia era apenas útil em situações específicas. O
alto capim dificultava a progressão das colunas e limitava a observação e
execução de tiro, mas favorecia a aproximação por surpresa (emboscada ou
guerrilha, etc.).
Navegabilidade
do Rio
A
navegabilidade do rio tem duas épocas distintas durante o ano:
1)-
A estação das chuvas, que vai desde o mês de Outubro até ao mês de Abril, com
elevadas precipitações, provocando enxurradas enormes, sentindo-se a sua influência
mais junto à foz, (o rio nasce no Lago Niassa e recebe, no trajecto, as águas
dos seus afluentes de ambas as margens). Nesta época do ano o rio é navegável
mais para montante, permitindo a navegação a embarcações de maior calado,
alargando as suas margens por influência desta circunstância.
2)-
A estação de seca está compreendida entre os meses de Maio a Setembro. Esta
época caracteriza-se por escassez de água debitada de montante para jusante, o
que vem permitir a formação de bancos de areia, na maré vazante, sendo
encobertos na praia - mar. Com a erosão das margens, o arrastamento de detritos
e com a movimentação de areias provenientes das marés ao longo dos tempos,
formam-se ilhas que em diversas épocas permitiam o seu acesso a vau.
Entre
os referidos bancos, criam-se canais estreitos e por vezes profundos onde a
água provoca fortes correntes, a par de outros canais mais largos de menor
profundidade, que permitem a passagem de banco de areia em banco de areia, a
vau. A situação dos bancos de areia era alterada em função das correntes, pois
tanto se formavam para uma margem como para outra, ou se deslocavam para
jusante ou montante, em função das forças das águas das marés.
Outra
situação que se criava era o estreitamento das margens, a navegabilidade não
permitia avanços em direcção a montante, não permitindo também o a atracagem às
margens, assim como não permitia a navegação de embarcações a partir de
determinado calado, pois corriam o risco de encalhar.
A
cota da margem esquerda do rio é mais elevada em quase todo o seu percurso. A
do lado direito, junto à foz, é muito pantanosa e de difícil penetração, com
alterações constantes na sua configuração em função das forças das águas provenientes
das marés.
Pelo
que se expõe, o rio e as marés que o influenciam eram parte integrante e
fundamental para qualquer operação do reconhecimento de margens, do
levantamento topográfico do terreno (ilhas e ilhotas), ou mesmo de operações de
combate, que estavam sujeitas ao seu ciclo.
Margem do Rio Rovuma
Clima – Saúde
A
estação das chuvas vai de Outubro a Abril, como acima se referência, com altas
temperaturas, acentuadas variações térmicas diurnas e nocturnas e elevado
índice de humidade. A natureza insalubre do clima foi um inconveniente para as
tropas, nomeadamente as metropolitanas (os europeus fixados na província tinham
melhores condições de resistência), podendo-se afirmar que as doenças
(paludismo, do sono e infecções intestinais) foram causadoras de baixas em
quantidades significativas, conseguindo por vezes inutilizar unidades inteiras,
do tipo batalhão. A profilaxia era insuficiente e os cuidados das tropas com
água eram inexistentes, os alimentos e até a higiene geral escapavam aos seus
hábitos, normas e recomendações. A época da seca, de Maio a Outubro, era o
período mais aconselhável para a execução das operações. O emprego de solípedes
estava por sua vez condicionado à existência de água, já que a alimentação como
regra era à base de forragens. Contudo, em muitas ocasiões, a luta pela água no
tempo seco, tanto para as tropas como para os animais, teve carácter
prioritário e decisivo na conduta das operações.
A
mosca tsé-tsé era um permanente inimigo dos animais, infligindo numerosas
baixas irrecuperáveis, não sendo aconselhável a evacuação do gado doente por
razões de contágio e disseminação da doença.
A
par destas vicissitudes, há que acrescentar o desconhecimento quase
generalizado da fauna, mas em especial de répteis e insectos que por lá
existiam em terrenos pantanosos e de floresta densa, cujos elementos eram
propícios à sua proliferação, como serpentes e cobras venenosas, não havendo
antídoto para neutralizar o seu veneno, (serpente naja, extremamente agressiva
e venenosa, a cobra cuspideira, cujo veneno era direccionado para a vista
provocando a cegueira, caso não se procedesse de imediato à lavagem da vista, a
presença de leões, hienas, crocodilos, etc.).
(Continua)
Sem comentários:
Enviar um comentário