quarta-feira, 21 de setembro de 2011





Artigo 70
Centenário da Implantação da República
(1910-2010)
Numária
O Papel-moeda
CINCO MIL ESCUDOS
Rainha D. Leonor




Chapa 1



A primeira nota de Cinco mil escudos tem como motivos principais na frente uma efígie da Rainha D. Leonor (1458-1525), e uma alegoria da Vindima. No verso a composição da nota comporta uma vinheta representando a Caridade, duas figuras alegóricas e a cabeça em relevo da Rainha. O trabalho de fabrico das chapas e das estampagens das notas foram executados pela firma Bradbury, Wilkinson & Cº. Ltd., New Malden, Surrey de Inglaterra. Foram utilizadas duas estampagens a talhe - doce na frente da nota, onde sobressaí a efígie da Rainha D. Leonor, uma alegoria da Vindima, trabalho de torno geométrico nas orlas e florões. O verso apresenta-nos uma Vinheta representado a Caridade, com moldura de arco reproduzido na Bíblia dos Jerónimos, duas figuras alegóricas e a cabeça da Rainha, além do trabalho a torno geométrico. A zona da marca de água foi protegida por uma impressão ponteada, a duas cores de técnica tipográfica. O papel foi fornecido pelos fabricantes Portals Limited, Laverstoke Mills, Whitchurch, Hampshire de Inglaterra, exibe numa filigrana o desenho, em perfil da Rainha D. Leonor. Dimensões da nota 195 x 125 mm. Esta nota nunca chegou a ser emitida em virtude de o Ministério das Finanças, por despacho de 5 de Novembro de 1942, não considerar oportuna a entrada em circulação de uma nota deste tipo. Por ofício nº. 1448, datado de 20 de Outubro de 1973, o Ministério das Finanças autorizou a destruição destas notas.
A Rainha D. Leonor nasceu a 2 de Maio de 1458, filha do Infante D. Fernando, duque de Viseu e Beja e de sua mulher a Infanta D. Beatriz. Casou no ano de 1470 com apenas doze anos de idade, com o Rei D. João II de Portugal, também de tenra idade, com quinze anos. Foi um casamento feliz com boas relações, não obstante o marido ter executado o seu irmão mais velho D. Diogo e mandar julgar e decapitar o outro seu cunhado D. Fernando, ambos por traição e conjura a favor dos primos Braganças. Dona Leonor foi uma das mais notáveis soberanas portuguesas de todos os tempos, pela sua vida, importância, influência, obra e legado às gerações vindouras. Fruto do seu casamento teve dois filhos, um morto à nascença e outro o Príncipe D. Afonso, herdeiro do trono, que morreu precocemente num desastre de cavalo no Vale de Santarém. Desde há muito tempo que as Rainhas portuguesas contavam com o rendimento de bens senhoriais e patrimoniais da Coroa, destinados à sua sustentação, a este património chamaram-lhe “Casa das Rainhas”, que abrangiam já uma acentuada quantidade de vilas proveniente de outras Rainhas, e ao qual o seu marido a dotou com mais bens, adicionando as cidades de Silves, Faro e terras de Aldeia Galega. Fundou a cidade de Caldas da Rainha, a qual foi também incorporada no séquito dos bens das Rainhas. Dona Leonor foi a Princesa mais rica da Europa, pois reinou no apogeu da fortuna da expansão portuguesa, quando Lisboa se tornava a capital europeia do comércio e das riquezas exóticas. Após enviuvar todas as grandes mercês que recebeu do seu marido e de seu irmão foram empregues na prática da caridade, da devoção verdadeira, no patrocínio de obras religiosas, e sobretudo e onde mais se distinguiu, na assistência social aos pobres. Foi quem fomentou, encorajou e financiou o projecto de estabelecimento de Misericórdias, por todo o reino. A rede de Misericórdias chegou até aos nossos dias, cumprindo sempre o papel social a que estava destinada. Foi regente do Reino mais de que uma vez. Retirou-se para o seu Paço em Xabregas, abandonando de vez a corte e a vida mundana. A sua obra foi notável, pois apoiou o rei D. Manuel na fundação do Hospital de Todos os Santos, considerado o melhor hospital da Europa naquela época, e esteve na origem da fundação do hospital termal da Caldas da Rainha, cuja construção e funcionamento custeou, ao qual foi dado o nome da soberana. Mandou construir no ano de 1509 o maravilhoso Convento da Madre Deus, em estilo gótico manuelino, ocupado sucessivamente por clarissas, franciscanas descalças da primeira regra de Santa Clara à qual a própria Rainha pertenceu e fez voto. Não deixou descendência. A Rainha D. Leonor faleceu no seu Paço, nos arredores de Lisboa a 17 de Novembro de 1525 onde ficou sepultada no Convento da Madre de Deus em campa rasa, num lugar de passagem, para que todos a pisassem, como gesto de grande humildade.

F I M

Bibliografia: “ O papel-moeda em Portugal”. Banco de Portugal. Wikipedia.org/Leonor Rainha de Portugal.


Publicado no Jornal das Caldas me 07-09-2011.

Sem comentários: