Centenário da Implantação da República (1910-2010)
Numária
O Papel-moeda
1910 – 2010
Por: Luís Manuel Tudella
DEZ ESCUDOS
Na última nota de Dez Escudos emitida pelo Banco de Portugal, foi homenageada a figura do grande escritor português do século XIX, Eça de Queirós, considerado o maior romancista e contista desse século, seguindo a escola/tradição; inicialmente enveredando pelo romantismo, e posteriormente transitando para o realismo, sendo esta última fase a mais crucial e longa da sua vida literária.
A nota apresenta-nos na frente uma vista da Igreja dos Jerónimos, em Belém e o retrato de Eça de Queirós a preto, sendo estampado calcograficamente e inclui trabalho de guilhoché em linha branca; o fundo impresso tipograficamente a encarnado claro e composto de um desenho continuo e linhas ondulantes paralelas. O verso tem uma estampagem calcográfica, a castanho escuro com motivo de guilhoché em linha branca sobre fundo amarelado, composto por pontos e linhas ondulantes oblíquas.
O trabalho da elaboração das chapas e estampagem das notas foi executado pela casa Waterlow & Sons Ltd., de Londres, e o papel de origem inglesa tem uma marca de água, observado à transparência pela frente, igual à de todas as notas estampadas por aquela firma anteriormente.
Dimensão da nota, 149 x 87 mm. Foram emitidas 10 000 000 de notas com a data de 13 de Janeiro de 1925. Foi retirada de circulação em 31 de Dezembro de 1933 conjuntamente com as notas de 5$00 e 2$50, para serem substituídas por moedas de prata com os mesmos valores das notas retiradas.
Biografia
José Maria de Eça de Queirós, vulgo Eça de Queirós, nasceu na Povoa do Varzim, numa casa da praça do Almada no dia 25 de Novembro de 1845; filho de Carolina Augusta Pereira de Eça e de José Maria de Almeida Teixeira de Queirós, sendo baptizado na igreja matriz de Vila do Conde, no dia 1 de Dezembro do mesmo ano, constando do seu registo ser filho de mãe incógnita, ao que parece, ser esta a fórmula comum que se traduzia pela solução usada quando a mãe pertencia a estratos sociais elevados, como era o caso. Após seis dias da morte da avó de Eça, os pais contraíram matrimónio, pois a avó sempre se tinha oposto a este desenlace; tinha por essa altura Eça quatro anos de idade. Em virtude destes factos foi entregue a uma ama, aos cuidados de quem ficou, até passar para a casa de Verdemilho em Aradas, Aveiro, casa da sua avó paterna até à sua morte, em 3 de Novembro de 1855. Foi internado no colégio da Lapa no Porto, onde conhece Ramalho Ortigão, de onde saiu no ano de 1861, com a escolaridade obrigatória completa, com dezasseis anos de idade. Ingressa na Universidade de Coimbra no mesmo ano de 1861 onde se matriculou em direito. Durante o tempo de Coimbra conhece Antero de Quental do qual se torna amigo. Os seus primeiros trabalhos foram publicados na Gazeta de Portugal, no ano de 1866 e mais tarde coligidos em livro, publicado a título póstumo, com o nome de “Prosas Bárbaras”. Em 1866 conclui o Curso de Direito, mudando-se para Lisboa, onde se instala na casa dos pais, fazendo a sua inscrição como advogado no Supremo Tribunal de Justiça. No fim do ano parte para a cidade de Évora, onde funda e dirige um jornal bissemanário de índole oposicionista, “Diário de Évora”. Em finais de 1869 e 1870 Eça de Queirós faz uma viagem de cerca de seis meses pelo Oriente, em companhia de D. Luís de Castro, 5º. Conde de Resende, irmão daquela que viria a ser sua futura mulher, Emília de Castro, tendo assistido à inauguração do canal de Suez. Visitaram a Palestina, aproveitando notas de viagem para a compilação dos seus futuros trabalhos. No ano de 1870 e após regressar do Oriente é nomeado administrador do concelho de Leiria, onde escreve a sua primeira novela realista “O crime do Padre Amaro”, que se caracterizou por um forte ataque à igreja e à sociedade provinciana de então. No ano de 1871, é um dos participantes das Conferências do Casino, denominada a Nova Literatura ou, como Eça se lhe refere nas Farpas, a Afirmação do Realismo como Nova Expressão de Arte. Entre os anos de 1872, 1873, desenvolve uma intensa actividade diplomática, sendo nomeado cônsul, nas Antilhas Espanholas, depois em Havana. No ano de 1873, viaja por toda a América do Norte em missão oficial, regressando a Havana. No ano de 1874 regressa a Portugal onde permanece escassos meses, seguindo para o consulado de Newcastle. No ano de 1878 segue para Bristol, onde desenvolveu uma carreira diplomática exemplar passando, os anos mais produtivos da sua vida como cônsul de Portugal. Escreve por esta altura um dos trabalhos mais emblemáticos “A Capital” escrito numa prosa hábil, e realista; também são desta época as obras “Os Maias” e “O Mandarim”, este último escrito em Paris.
As suas obras ainda hoje espelham em parte a crítica à sociedade de hoje; ágil na prosa; contundente na sua crítica; realista com a naturalidade na descrição das cenas, é tão autêntico, que nos dá a percepção de estarmos a vive-las, tal é a maneira como somos absorvidos e envolvidos pela sua leitura.
As obras de Eça foram traduzidas em cerca de vinte línguas, o que demonstra a sua qualidade literária.
As obras mais emblemáticas por ordem cronológica:
1-Mistério da estrada de Sintra (1870), 2- O Crime do Padre Amaro (1875), 3- A tragédia da rua das flores (1877-78), 4- O Primo Basílio (1878), 5- O Mandarim (1880), 6- As minas de Salomão (1885), 7- A Relíquia (1887), 8- Os Maias (1888), 9- Uma campanha alegre (1890-91), 10- O Tesouro (1893), 11- A Aia (1894), 12- Correspondência de Fradique Mendes (1900), 13- A Ilustre Casa de Ramires (1900), todas estas obras foram publicadas em vida do romancista.
1-A cidade e as serras (1901), 2- Contos (1902), 3- Prosas bárbaras (1903), 4- Cartas de Inglaterra (1905), 5- Ecos de Paris (1905), 6- Cartas familiares e bilhetes de Paris (1907), 7- Notas contemporâneas (1909), 8- Últimas páginas (1912), 9- A Capital (1925), 10- O conde de Abranhos (1925), 11- Alves & Companhia (1925), 12- Correspondências (1925), 13- O Egipto (1926), 14- Cartas inéditas de Fradique Mendes (1929) e 15- Eça de Queirós entre os seus – Cartas íntimas (1949), foram obras publicadas a título póstumo.
Eça de Queirós faleceu em Paris no dia 16 de Agôsto de 1900.
F I M
Obra consultada O papel-moeda em Portugal – “Banco de Portugal”. Trechos avulsos.
Óbidos 15 de Outubro de 2009.
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