quinta-feira, 19 de janeiro de 2012

Coleccionismo
Numismática






Moeda de Ouro

Tesouros Numismáticos Portugueses

O Português de D. Manuel I






A Imprensa Nacional Casa da Moeda pôs em curso, no ano de 2009 um plano numismático extremamente ambicioso, o qual tem sido bastante admirado e sobre o qual se tem tecido os maiores elogios. A este, foi-lhe dado o nome “Tesouros Numismáticos Portugueses”, e abrange a reprodução de um conjunto de cinco moedas batidas e cunhadas em ouro, desde o inicio da nacionalidade (reinado de D. Sancho II até ao reinado de D. Maria II), que pelo seu significado foram consideradas as moedas de maior prestígio nacional, havendo uma que pelas suas qualidades atingiu o auge em toda a Europa durante dois séculos, tendo sido considerada uma moeda muito forte e de enorme impacto a nível mundial, ao ponto de ter sido batida por alguns estados e cidades integrados na Liga Hanseática.
No ano de 2009 foi cunhada a reprodução da moeda do reinado do rei D. Sancho II “O Morabitino”, com o valor facial de € 2,50, de 26,5 mm. de diâmetro, 10,37 g. de peso em ouro e com a permilagem de 99,9%.
No ano de 2010 foi cunhada a reprodução da moeda do reinado do rei D. João II “O Justo”, com o valor facial de € 5,00, de 30 mm. de diâmetro, 15,55 g. de peso em ouro e com a permilagem de 99,9%.
No presente ano foi cunhada a reprodução da moeda do reinado do rei D. Manuel “O Português”, com o valor facial de € 7,50, 33 mm. de diâmetro, 23,33 g. de peso, e com a permilagem de 99,9%, com acabamento proof e com um limite de emissão de 2.500 unidades.
Para os próximos anos de 2012 e 2013 e não havendo surpresas de maior, serão cunhadas respectivamente réplicas das moedas da dobra de “24 Escudos”, a maior moeda que se cunhou em Portugal, e uma das maiores do mundo, no reinado de D. João V, e a peça “A Degolada”, do reinado de D. Maria II, terminando com esta este ciclo.

D. Manuel I, nasceu no ano de 1469 em Alcochete e faleceu na cidade de Lisboa no ano de 1521, sendo cognominado de “O Venturoso”, ”O Bem Aventurado” ou “O Afortunado”, tanto pelos eventos felizes que o levaram ao trono, como pelos que ocorreram no seu reinado. D. Manuel, sucedeu ao seu primo direito D. João II, prosseguindo as explorações portuguesas pela costa ocidental de África, estabelecendo feitorias, de tal modo que o levou à descoberta do caminho marítimo para a Índia. Foi o primeiro rei a assumir o título de Senhor do Comércio, da Conquista e da Navegação da Arábia, Pérsia e Índia, no ano de 1521.
A riqueza começava a afluir ao reino, com a chegada do ouro proveniente da costa africana, primeiro da Mina (São Jorge da Mina, região da Guiné) e depois do Monomotapa (era o soberano que reinava na bacia do rio Zambeze), o ouro era proveniente das zonas auríferas de Butua (Transval), Mokaranga (Rodésia) e Mata-belé (zona compreendida entre os rios Limpopo e Zambeze).
A descoberta do caminho marítimo para a Índia tinha como objectivo primordial a instalação de uma carreira de comércio de especiarias; valendo-se dos recursos do ouro da Mina, D. Manuel, mandou lavrar as moedas “O Português” de ouro, que se caracterizou como sendo a maior e mais pesada moeda europeia da época com o valor de 10 cruzados de ouro, equivalente a 3.900 reais e com o peso de 35,5 gramas de ouro maciço, a qual foi considerada a moeda mais representativa da expansão portuguesa, fazendo-a acompanhar na armada de Vasco da Gama, a fim de servir para troca com a aquisição de bens ou especiarias, ou como gratificações de serviços prestados e também como ofertas do soberano português a outros soberanos.
A propósito desta escreveu no ano de 1566 Damião de Góis na Crónica do Felicíssimo Rei D. Manuel: “(… mãdou lavrar no ano de mil quatroçetos, noventa e nove, Portugueses douro, de dez cruzados de valor cada hum de vinte e quatro quilates, que hera a mesma lei dos cruzados, hus quaes Portugueses tinham de hua parte de cunhos há cruz da ordem de christus, e hum letreiro que dizia, In hoc signo vinçes, e da outra parte tinham ho scudo das armas do regno com sua coroa., e dous letreiros, hum na grafilla de fora aho redor que dizia, primus Emanuel Rex Portugalie, Algarbiorum citra, e vlara in Africa, e dominus Guinae, e outro letreiro aho redor das armas que dizia, conquista nauegação, comerçio AEtiopiae, Arabie, Persiae,Indiae)”.
Esta moeda foi batida na cidade de Lisboa, Porto, Goa, Cochim e Malaca, tal o prestígio e o poder liberatório que alcançou, continuando a ser batida no reinado de D. João III e também na Liga Hanseática, (A Liga Hanseática foi uma aliança de cidades mercantis que estabeleceram e mantiveram um monopólio comercial sobre quase todo o norte da Europa e Báltico, desde a Idade Média, séc. XII até à idade Idade Moderna, séc. XVII).

No seu apogeu a Liga Hanseática contava com cerca de 90 cidades do mar do Norte e do mar Báltico, entre elas: Lubeck, Hamburgo Amsterdão, Bergen, Bordéus, Bruges, Colônia, Cracóvia, Groningen, Hildesheim, Londres, Nantes, Novgorod, Praga, Reval, Riga, Rostock, Stralsund, Toruń, Varsóvia, Wismar, Antuérpia e Coprnhaga.
É a demonstração real que estas espécies áureas de indubitável valor, penetraram na Europa Central e Setentrional onde pagavam todos os produtos exportados pelos portos dessa zona, mas em especial pelo porto de Antuérpia. Serviram também para pagar acordos diplomáticos, baseados em casamentos régios, estabelecidos com o Sacro Império Romano Germânico.
Estas moedas foram copiadas e cunhadas em diversos estados e cidades da Europa, desde 1570 a 1640, ficando na história como “Os Portugaloser”.

A moeda “O Português” de D. Manuel I
Características: O Português tinha o valor de 10 Cruzados em ouro, media 35,2 mm de diâmetro e pesava 35,22 g.

Anverso: As legendas, (Manuel I, Rei de Portugal e dos Algarves, daquém e além mar em África, Senhor da Guiné, da conquista e navegação e comércio da Etiópia, Arábia, Pérsia e Índia), em duas linhas. Ao centro as armas do Reino, entre dois aneletes.

Reverso:
A legenda (Com este sinal vencerás). Ao centro a cruz de Cristo com um ponto ao meio, tendo no braço superior três pontos.
O valor actual desta moeda encontrando-se em bom estado de conservação, e segundo Javier Salgado, especialista e estudioso nesta matéria, oscila entre os 60.000 a 70.000 €uro, podendo atingir valores muito mais elevados em função do seu estado de conservação.


Bibliografia: Moedas de Prestígio Internacional - Banco de Portugal; Moedas de Ouro de Portugal dos séculos V a XX de Javier S. Salgado e Colecção particular do autor.

Óbidos, 2 de Dezembro de 2011.


Publicado no Jornal das Caldas em 18-01-2012.


F I M

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