quarta-feira, 24 de fevereiro de 2010

Artigo 15
Centenário da Implantação da República (1910-2010)
Numária
O Papel-moeda
1910 – 2010




VINTE ESCUDOS
José Estevão




Na terceira nota de vinte escudos é distinguida a figura de José Estevão, distinto orador, jornalista e acérrimo defensor da causa liberal.
A frente da nota tem dois fundos impressos; um em íris, outro em azul e vermelho compostos de linhas ondulantes e “moiré”, apresentam a meio da nota um grande ornato em círculo de guilhoché em linha branca e naquelas duas cores, onde se lê o valor da nota por extenso sobreposto ao valor expresso em algarismos; sobre o lado direito uma figura feminina, sentada, alegoria da Geografia e do lado oposto o medalhão com a gravura de José Estevão; este trabalho foi executado pelo professor de Belas-Artes José de Lacerda. O verso tem um fundo impresso tipograficamente em tom claro, irisado de amarelo e verde, com composição na parte superior por um motivo geométrico. Este fundo serve de base ao desenho principal, estampado a talhe doce. O conjunto engloba um trabalho de torno geométrico, estando colocadas em cada um dos lados duas cabeças de Minerva, a meio, de perfil para o centro.
O papel foi fabricado por Société Anonyme des Papeteries du Marais et de Sainte-Marie (França), tendo como particularidade visto à transparência pela frente, no ângulo superior direito uma cabeça feminina com capacete e na parte inferior esquerda a legenda Banco de Portugal.
Dimensões da nota 177 x 116 mm. Foram emitidas 9 730 000 de notas, com as datas de 9 de Agôsto de 1920, 9 de Fevereiro de 1921, 6 de Fevereiro de 1924, 18 de Novembro de 1925, 13 de Abril de 1926 e 3 de Fevereiro de 1927. A primeira emissão, 2 de Novembro de 1921, e a última a 2 de Outubro de 1929. Retirada de circulação em 7 de Abril de 1931.
Biografia:
José Estêvão Coelho de Magalhães, vulgo José Estêvão, nasceu em 26 de Dezembro de 1809 em Aveiro e faleceu em 4 de Novembro de 1862 em Lisboa, com um acidente vascular cerebral. Durante estes 53 anos de vida proferiu cerca de 1500 intervenções parlamentares. No ano de 1810, após a ocupação de Aveiro pelos exércitos napoleónicos o pai foi obrigado a abandonar a cidade, entregando a família aos cuidados da avó materna, até ao ano de 1821, data a partir da qual passou a residir com o pai. Fez os seus estudos preparatórios em Aveiro, tendo sido incentivado por seu pai a abandonar a ideia de ingressar numa carreira eclesiástica.
No ano de 1825, matricula-se no 1º. Ano de Direito na Universidade de Coimbra. Nesta cidade, e devido à instabilidade social e política que se vivia então, envolveu-se nos clubes políticos que formavam o meio académico, destacando-se pela sua eloquência na sua oratória em prol do movimento liberal.
No ano de 1826, integrou o Batalhão Académico, que os estudantes de Coimbra formaram para defenderem o regime liberal.
Decorria o ano de 1826, quando José Estêvão volta a alistar-se no novo Batalhão Académico, agora com o posto de 1º. Cabo, na sequência da Belfastada, onde os liberais se insurgiram contra o governo de D. Miguel. Malograda a intentona, os principais líderes retiraram-se para Londres, entre os quais José Estêvão; o restante do exército liberal composto por 12 000 homens foi obrigado a procurar refúgio na Galiza.
No ano de 1829, segue para a Terceira, onde colaborou com a edição da Crónica da Terceira, sendo o 1º. Periódico que se publicou no arquipélago dos Açores. Em Ponta Delgada foi incorporado no exército de D. Pedro IV, onde embarcou para Portugal, indo desembarcar no Mindelo, no ano de 1832. Notabiliza-se no Cerco do Porto, ficando os académicos encarregados da defesa da Serra do Pilar, a qual foi defendida com muita destreza, apesar de fortemente danificadas as suas fortificações pela artilharia inimiga; os trabalhos de recuperação foram dirigidos debaixo de um acérrimo fogo, conseguindo colmatar as brechas entretanto abertas pelo inimigo; por esta acção foi condecorado com a Ordem da Torre Espada. No ano de 1833, e por diversas ocasiões deu provas de bravura, sendo promovido por distinção a segundo - tenente de artilharia. Terminada a guerra no ano seguinte foi promovido a primeiro - tenente.
No ano de 1836 concluiu com brilho o curso de Direito, deixando para trás a carreira militar, indo exercer advocacia para a cidade do Porto. Foi eleito deputado às Cortes pelo círculo de Aveiro. É por essa altura dado a conhecer no seu juramento as inatas capacidades de orador pela sua eloquência, espantando a Câmara dos Deputados; segundo Bulhão Pato, com, inflexões meigas, terríveis, patéticas, suavíssimas, apaixonadas, arrebatadoras, sendo de imediato notada a sua dramaticidade. No ano de 1837, é pela primeira vez pai de um rapaz a que foi dado nome de Mateus, fruto de “amores de estudante”. No ano de 1838, não se contentando com o que se passava no parlamento, fundou com Manuel de Vasconcelos, o jornal “O Tempo”, onde expressava e propagandeava todas as suas ideias radicais e contrárias às de Rodrigo da Fonseca Magalhães, Costa Cabral e Passos Manuel. É consecutivamente eleito pelo círculo de Aveiro nos anos de 1839 e 1840. No ano de 1842, não consegue ser eleito pelo círculo de Aveiro devido ao facto de endurecer posições contra o instalado cabralismo, vindo contudo a ser eleito por Lisboa/Estremadura. No ano de 1844 adere a mais uma tentativa revolucionária, desta feita liderada por António César de Vasconcelos, a qual obteve apoio do Regimento de Cavalaria nº.4; a José Estêvão foi-lhe dada a tarefa de sublevar as províncias do norte, servindo-se de território espanhol, para progressão no terreno, entrando em Portugal, na zona da Torre de Moncorvo, tentando ao longo do Douro obter adesões, as quais não foram suficientes para uma sublevação geral. Entretanto, foi posta a circular uma portaria que oferecia um prémio de 2.000$000 réis, a quem apresentasse a cabeça de José Estêvão, tal era o incómodo e insegurança que o governo de Costa Cabral vivia. Após este malogro, José Estêvão exila-se em Paris, permanecendo até ao ano de 1846. Quando a revolução da Maria da Fonte provoca a queda dos irmãos Cabral, regressa a Portugal, sendo um dos mentores do reagrupamento dos radicais. Quando em Outubro rebenta a guerra civil da Patuleia, foi integrado no exército patuleia do Alentejo, onde fez toda a guerra, participando na ocupação de Setúbal. No ano de 1851 é novamente eleito por Aveiro ingressando no parlamento, notando-se no seu discurso uma alteração tanto no tom como no seu conteúdo, abandonando a oposição e apoiando as iniciativas governamentais que considerava adequadas. No ano de 1852 é eleito ao parlamento por Lisboa, sendo nos anos seguintes ministerial. No ano de 1856 volta a ser eleito pelo círculo de Aveiro, debruçando-se sobre os assuntos de interesse da sua região. No ano de 1858 casa com D. Rita de Moura Miranda. É pai pela segunda vez no ano de 1859, daquele que seria um homem notável, conhecido por Luís de Magalhães, deputado e ministro Nos anos de 1858-1859 é novamente reeleito por Aveiro, e no ano de 1860 é eleito por Vagos. É neste período que se destaca em prol da zona de Aveiro, com destaque para a construção do novo liceu, a passagem da linha férrea, que ligaria Lisboa ao Porto, a dragagem da barra, obras de melhoramento portuárias e iluminação da costa. É pai pela terceira vez de uma menina a quem deram o nome de Joana. No ano de 1861 é novamente eleito, declarando-se independente de todos os partidos ou coligações. Colabora desde o primeiro número no Jornal “A Liberdade”. Na cidade de Aveiro funda com um grupo de amigos o periódico “Distrito de Aveiro”. No ano de 1862 é eleito Grão-Mestre da Confederação Maçónica Portuguesa, onde colabora activamente.
O seu funeral foi bastante concorrido com milhares de pessoas a acompanharem o féretro até ao cemitério dos Prazeres; as duas câmaras das Cortes fizeram-se representar, assim como as Sociedades das Ciências Médicas de Lisboa e a Sociedade de Geografia de Lisboa e todas as associações e clubes, colégios institutos, etc, onde discursaram as mais diversas personalidades da sociedade, lembrando a memória daquele que foi um ilustre militar, escritor, jornalista, político e em especial um excelente orador e comunicador.

F I M

Bibliografia: “O papel-moeda em Portugal” Banco de Portugal. Trechos avulsos wikipedia.
Óbidos, 28 de Janeiro de 2010.

Publicado no Jornal das Caldas em 24-02-2010.

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