quarta-feira, 18 de novembro de 2009


Artigo 11
Centenário da Implantação da República (1910-2010)



Numária
O Papel-moeda
1910 – 2010
Por: Luís Manuel Tudella
DEZ ESCUDOS


À segunda nota de Dez Escudos emitida pelo Banco de Portugal, foi homenageada a figura do Marquês de Sá da Bandeira, de seu nome Bernardo de Sá Nogueira de Figueiredo, general e estadista português; sendo um político do tempo da Monarquia Constitucional, e um dos mais destacados líderes do movimento setembrista. Destacou-se superiormente como líder do Partido Histórico, vindo mais tarde a abandoná-lo, para vir a formar o seu próprio movimento, o Partido Reformista. Foi um eminente político, vindo a desempenhar altos cargos, como Ministro da Marinha, onde tomou posse das pastas da Marinha e Colónias e Obras Públicas, assume o Ministério da Guerra, e interinamente a Secretaria de Estado dos Negócios Estrangeiros, e por fim, pelos serviços prestados, é nomeado por cinco vezes chefe do Governo (1 836-1 837, 1 837-1 839, 1 865 e 1 868-1869), o que lhe granjeou primeiro altas condecorações militares, “Grã - cruzes da Ordem de Torres Espada” e títulos, “ Barão, Visconde e Marquês”, como governante.
Características da nota: A frente da nota é composta por dois fundos irisados a verde, lilás e amarelo, executados em guilhoché e impressos tipograficamente. Esta estampa é composta de uma faixa horizontal que serve de apoio ao medalhão que emoldura o retrato do Marquês de Sá da Bandeira. Em ambos os lados, a meio, observam-se dois ovais, cada um com a cabeça alegórica da República, de perfil para o centro.
No verso assentando sobre um fundo composto em guilhoché e impressos topograficamente em íris nas cores amarelo e rosa, sobressai o desenho principal. Este desenho apresenta-nos três figuras aladas, simbolizando a da esquerda a Poesia, e as duas da direita as Belas-Artes, Pintura e Arquitectura. No canto superior direito está estampada a cabeça de um guerreiro. A estampagem deste tipo de notas foram executados por Bradbury, Wilkinson & Cº. Ltd., de Londres, e o papel de fabrico especial, apresenta-nos à transparência, pela frente no ângulo superior direito uma cabeça de mulher, (alegórica da Vinicultura), foi manufacturado pelo papeleiro francês Perrigot-Masure, Papeteries d´ Arches (Voges). A dimensão da nota é de 167 x 107 mm., sendo emitidas 14 360 000 notas com as datas de 09 de Agosto de 1920, 31 de Agosto de 1926, 2 de Novembro de 1927 e 28 de Janeiro de 1928. A primeira emissão foi em 2 de Novembro de 1921 e a última em 17 de Junho de 1931. Foi retirada de circulação em 31 de Dezembro de 1933.
Bernardo de Sá Nogueira de Figueiredo, vulgo Marquês de Sá da Bandeira, nasceu em Santarém em 26 de Setembro de 1795, filho de Faustino José Lopes Nogueira de Figueiredo da Silva e de Francisca Xavier de Sá Mendonça Cabral da Cunha Goldophin, vindo a falecer na cidade de Lisboa em 06 de Janeiro de 1876.
Foi uma das grandes figuras do liberalismo, apoiando-os incondicionalmente; esteve sitiado durante o cerco do Porto com outras ilustres figuras; no decorrer da guerra viria a ser ferido, tendo perdido o braço direito, no Alto da Bandeira, em Vila Nova de Gaia. Após a revolução de Setembro de 1836 e a tomada do poder pelos setembristas, torna-se ministro do Interior do novo governo. Pouco tempo após a sua tomada, uma tentativa de contra-revolução de levar ao poder a facção cartista (a Belenzada), obteve um efeito contrário ao desejado pelos revoltosos, obrigando a rainha (D. Maria II) a nomear Sá da Bandeira Primeiro Ministro (1836-1837). Após a sua tomada de posse e conjuntamente com Passos Manuel, a quem lhe fora confiada as pastas das Finanças e do Interior, foi iniciado um longo programada de reformas, visando o rápido progresso do País, declarando de imediato a abolição da escravatura nas colónias portuguesas, o que veio a ser uma tomada de posição inteligente com um profundo sentimento humanista e social. Em Portugal a escravatura já tinha sido abolida. No ano de 1837, desencadeou-se a revolta dos Marchais, contra o governo tendo sido anulada pela intervenção dinâmica do Sá da Bandeira. No ano de 1842 Costa Cabral encetou um golpe, o qual saiu vitorioso acabando com a governação setembrista. No ano de 1846 a revolta da Maria da Fonte, pôs fim ao de Costa Cabral, obrigando a rainha D. Maria II, designar novo executivo, mas desta feita presidido pelo Duque de Palmela, um cartista moderado, no qual Sá da Bandeira tomou parte, abarcando com o Ministério da Guerra. Um outro golpe, desta feita promovido pelo Duque de Saldanha, levou-o a pedir a sua exoneração. Esta tomada de atitude, acabou por originar uma nova guerra civil, a “Patuleia”, a qual teve o seu fim no ano de 1847, saindo vitoriosa a facção dos cartistas, que tiveram o apoio da rainha e de forças estrangeiras (Espanha e Reino Unido). Durante mais de dez anos Portugal viveu tempos de acalmia sendo governado pelos conservadores, até que D. Pedro V, subiu ao trono, e com ele ideias bastante progressistas. Um sistema rotativo iria caracterizar a Monarquia Constitucional, sendo protagonistas os dois maiores partidos; o Partido Regenerador, formado por antigos cartistas de raízes conservadoras, e o Partido Histórico, saído do movimento setembrista com feições mais liberais. Sá da Bandeira por esta altura toma as rédeas do Partido Histórico, assumindo um papel de proa, sendo a figura principal. Esta situação de rotativismo veio provocar frequentes dissoluções das Cortes, o que não abonava as instituições e retardava o progresso do País. Em 1865 Sá da Bandeira ascende à chefia do Governo, por escassos cinco meses, sendo a sua substituição formada por uma grande coligação constituída por Regeneradores e Históricos; Sá da Bandeira não nutria simpatia por esta resolução, acabou por se afastar do partido e formou com alguns dos seus seguidores um novo partido “O Reformista”. Voltou a ser nomeado Primeiro Ministro à frente deste partido, no período de 1868 e 1869. No ano de 1870, na sequência de mais um golpe da “Ajudada”, protagonizado novamente pelo Duque de Saldanha, que o colocou no poder. Sá da Bandeira preparou a resistência ao governo ditatorial deste, o que após três meses acabou por cair. Pela última vez Sá da Bandeira é convidado a formar governo, após o qual organizou eleições e entregou o poder ao independente António José de Ávila.
Foi uma longa vida dedicada inicialmente à vida militar, e os outros restantes (cinquenta anos) dedicados à vida política, passando e vivendo por diversas guerras civis, golpes e contra-golpes, prejudicando o desenvolvimento do País, contrário aos seus desígnios.
Pela sua actividade cívica foi galardoado ao longo da sua vida com títulos honoríficos, desde 1º. Barão, 1º. Visconde e por fim 1º. Marquês de Sá da Bandeira.
Em sua homenagem e durante os tempos coloniais foi fundada uma cidade em Angola com o nome de Sá da Bandeira, hoje esta cidade tem o nome de Lubango.

F I M

Obra consultada O papel-moeda em Portugal – “Banco de Portugal”. Trechos avulsos.
Óbidos, 13 de Outubro 2009.

Publicado no Jornal das Caldas em 18-11-2009