Numismática
Por: Luís Manuel Tudella
Moedas de Ouro - Colecção Comemorativa
UEFA EURO -2004
Os valores do futebol
O Espectáculo do Futebol
Quando no ano de 2000 a UEFA, atribui a Portugal a realização e organização do Campeonato da Europa de Futebol, pôs-se em marcha um elaborado programa, abrangendo um elevado número de sectores da sociedade, que vieram auxiliar a concretização, daquilo que foi um verdadeiro êxito desportivo e organizativo, que até então se tinha realizado em Portugal, sendo alvo dos mais rasgados elogios de toda a imprensa europeia, e servindo de exemplo para o Campeonato do Mundo de Futebol de 2006, que se veio a realizar na Alemanha.
É de todos conhecido que esta modalidade é a mais praticada a nível universal, tendo largos milhões de praticantes e centenas de milhões de apaixonados por todo o mundo. O futebol move sociedades inteiras, interfere no hábito dos cidadãos, rege as suas reacções e relações, está integrado em todos os extractos sociais, e não há quem não opina sobre esta actividade senão todos os dias, de certeza, aos fins de semana, logo após o fim da jornada fetubolística, estendendo-se durante a semana, a uma simples conversa de rua, de café, e em locais de trabalho, ou mesmo, gerando enormes discussões.
Como se sói dizer, que “o futebol é o ópio do povo…”.
Mas quando, onde e quem inventou o futebol?
O jogo que deu origem ao futebol dos dias de hoje, com as devidas alterações que foi sofrendo ao longo dos tempos, teve as suas origens no oriente.
- Na China, surge na dinastia Xia, pelo ano de 2 197 a.C.; era costume pontapear os crânios dos inimigos derrotados. Mais tarde vieram a ser substituídos por bolas de couro, que eram chutadas por entre duas estacas cravadas no chão. Este desporto foi criado para treino militar. Chamava-se ”Tsu-Chu”;
- No Japão, aparece uma variação do tsu-chu. As mulheres não podiam participar. Foi difundido pelos imperadores Engi e Tenrei, sendo proibido o seu contacto físico. O campo de nome kakari era quadrado, tendo em cada lado uma árvore. Os jogadores eram em número de oito; era mais um ritual do que um jogo, antes de se iniciar realizava-se uma celebração para abençoar a bola, que simbolizava o sol;
- Na Grécia antiga, a referência a “Epyskiros”, vem num livro de Hómero, só relacionado com desportos de bolas. Este desporto era disputado com os pés, num campo quadrado, por duas equipas de nove jogadores cada, mas poderia aumentar até quinze em função de maiores dimensões do campo. A bola era feita de bexiga de boi e cheia de ar e areia, que deveria ser atirada para o fundo de cada lado do campo.
- No México, a civilização maia, entre os anos de 900 e 200 a.C., praticavam um jogo com os pés e as mãos, cujo objectivo era arremessar a bola num furo circular a seis metros de altura, no meio de seis placas quadradas de pedra. O capitão da equipa derrotada era sacrificado aos deuses.
- Em Roma por volta de 200 a. C., praticava-se o “Harpastum”, que era praticado num campo rectangular, dividido por uma linha e com duas linhas como meta. A bola feita de bexiga de boi, chamavam-lhe a follis. Era um exercício militar, o qual durava duas horas, sendo difundido noutras regiões da Europa, Ásia e Norte de África.
- Em França, e durante a idade média, foi criado o “Soule”, introduzido pelos romanos nos anos de 58 a. C., cujas regras variavam de região para região. O soule era praticado pela aristocracia sendo um desporto da realeza. O rei Henrique II, decretou a sua proibição por ser um desporto muito violento e barulhento, e quem não a cumprisse pagava com prisão a sua ousadia.
- Em Inglaterra no século XVI, e segundo descrição do escritor Philip Stubbes, o futebol era um desporto imensamente popular e a sua violência era enorme ao ponto de definir este jogo do seguinte modo:”Um jogo bárbaro, que só estimula a cólera, a inimizade, o ódio, a malícia, o rancor, etc…”; de tal modo era a sua violência, que não raras vezes, partiam-se pernas, roupas rasgadas, dentes partidos e arrancados e por vezes acidentes fatais, como o de um jogador ao pular de uma ponte para pegar a bola se afogou. Estas peripécias, levaram a muitos assassinatos entre as equipas rivais. A partir do ano de 1700, foi proibida esta forma violenta de futebol, vindo a ganhar a modalidade com a adesão cada vez maior de adeptos. Foram introduzidas novas regras, no ano de 1846, uma das quais, dirigia-se a jogar a bola somente com os pés, dando origem ao actual futebol, e a outra regra, dizia respeito ao jogo da bola com os pés e as mãos dando origem ao rugby.
O futebol foi introduzido no nosso país pelos irmãos Pinto Bastos, no ano de 1884, e o primeiro jogo de que há registo foi no ano de 1888, na vila de Cascais.
Dos sectores estatais que souberam intrepertar este evento, foram sem dúvida alguma a Federação Portuguesa de Futebol que em conjunto com o Banco de Portugal, através dos seus representantes governamentais, entenderam proceder à cunhagem de moedas alusiva ao evento.
Foi posto a concurso este projecto ao qual concorrem diversos artistas plásticos, apresentando alguns inovações no conceito do futebol, fugindo ao tradicional e clássico desenho, da bola, baliza, luva, caneleira, bota, bandeirola, apito, campo de futebol, e outros elementos relevantes, substituídos por simples traços que caracterizam os elementos atrás referidos e introduzindo conceitos relacionados com a modalidade, como a “Festa”, que se pretende seja abrangente; a “Paixão”, que a todos nos toca, pela beleza da sua execução com passes, jogadas e golos magistrais que nos encantam e apaixonam; e por fim o “Desportivismo”, que é elemento essencial no comportamento das referidas hostes, e no comportamento dos intervenientes, que por vezes se excedem, vindo a desvirtuar o espectáculo. Este projecto foi concretizado através da cunhagem de duas séries, com três moedas cada., de valor facial de 8 Euro, a seguir descritas:
À 1ª.série foi dado o título de “Os valores do Futebol”, que compõe as seguintes moedas:
A FESTA – Anv: Apresenta uma bola de futebol sobre o lado esquerdo, o escudo nacional, a legenda “República Portuguesa”, a era e o valor facial da moeda.
Rev: Apresenta o logótipo oficial, propondo-nos como elementos ilustrativos do tema, a bola, as bandeiras ao vento, simbolizando os adeptos em festa.
Autor: João Duarte.
A PAIXÃO - Anv: Apresenta um olho formado pelo escudo nacional, a legenda “República Portuguesa”, a era e o valor facial da moeda, observando o movimento do público que termina num coração.
Rev: Apresenta o logótipo oficial dos jogos e uma repetição dos corações como elementos simbólicos da paixão e vibração dos espectadores.
Autor: José Teixeira.
DESPORTIVISMO – Anv: Apresenta o escudo nacional, as legendas “Desportivismo” e “República Portuguesa”, a era e o valor facial da moeda.
Rev: Apresenta a estilização de um campo de futebol em cuja superfície se repete a expressão “Faire Play” e no círculo central está colocado o logótipo oficial, com a legenda “UEFA EURO 2004”.
Autor: José Simão.
À 2ª.série foi dado o titulo “O Espectáculo do Futebol”, que compõe as seguintes moedas:
A DEFESA – Anv: Apresenta o escudo nacional, por baixo o valor facial, de “8 Euro”, e na orla inferior, sob uma bola a legenda “República Portuguesa”.
Rev: Apresenta, de uma forma concisa, os dois elementos essenciais da defesa, o “guarda - redes”, e a “bola”, em cujo centro se inscreve a legenda “logótipo oficial da UEFA EURO 2004”.
Autor: João Duarte.
O REMATE – Anv: Apresenta sobre o lado esquerdo o escudo nacional, circundado pela legenda “República Portuguesa” – 2004”; sobre o lado direito e entre duas linhas paralelas saídas do circulo o valor facial “8 Euro”.
Rev: Apresenta em primeiro plano, um jogador a rematar a bola, que tem no centro o logótipo oficial da prova, e em fundo o estádio com os espectadores em ambiente festivo.
Autor: José Simão.
O GOLO – Anv: Apresenta o escudo nacional, a legenda “República Portuguesa”, a era, o valor facial de “8 Euro”, constituindo um motivo concêntrico que representa o esférico em movimento.
Rev: No centro o logótipo oficial da prova, rodeado por um conjunto de pictogramas sugerindo a explosão emocional dos espectadores com os corações eufóricos.
Autor: José Teixeira.
Foram efectuadas cunhagens das referidas moedas em diversos metais preciosos.
Especificações técnicas das moedas:
- Moeda Corrente de prata:
Ag: 500; Dia. – 36 mm.; Peso – 21 gr.; Bordo Serrilhado; Amoedação –1 500 000 exemplares de cada.
- Moeda BNC de prata:
Ag: 925; Dia – 36 mm.; Peso – 31,10 gr.; Bordo Serrilhado; Amoedação –30 000 exemplares de cada.
- Moeda de Prata Proof:
Ag: 925; Dia. – 36 mm.; Peso – 31,10 gr.; Bordo Serrilhado; Amoedação –15 000 exemplares de cada.
- Moeda de Ouro Proof:
Au. 916,6; Dia. – 36 mm.; Peso – 31,10 gr.; Bordo Serrilhado; Amoedação –15 000 exemplares de cada.
Estas moedas, mas em especial as correntes, que têm poder liberatório em território nacional, não suscitaram o interesse do público, devendo-se no meu entender; primeiro ao facto do valor facial da moeda ser elevado e de valor nunca dantes aplicado em casos idênticos, e em segundo ao facto da banca particular se ter desassociada, mostrando total desinteresse na colocação das moedas, salvo raras excepções, ao contrário do que se passava com as moedas de escudo.
As moedas de colecção em ouro, facilmente se esgotaram na INCM.
No ano de 2004 a Unione Filatélica e Numismática Vicentina, de Itália, atribuiu no ano de 2004 o “Prémio Internazionale Vicenza Numismática”, à moeda de colecção o “Futebol é Paixão”, como a mais bela do ano de 2003 em prata proof.
Jasneiro 2009.